terça-feira, 18 de novembro de 2008

Reportagens premiadas

O grande problema - já dizia um jornalista - não é o que sai nos jornais, mas o que não sai. Um jornal sem reportagens de peso é como uma padaria que vende de tudo, menos pão


A superoferta de informações é uma das características marcantes da vida moderna. Jornais, revistas, TV, rádio, internet e agora também celulares formam uma rede noticiosa em permanente atualização, que permite a qualquer pessoa, em qualquer lugar e independente do que esteja fazendo, acompanhar tudo o que ocorre no mundo à sua volta.

Mas, se a oferta de informação é generosa, falta-lhe, no mais das vezes, qualidade. Notícias superficiais, descontextualizadas, repetitivas, incompletas ou parciais - baseadas em declarações e press-releases, geralmente matizados pelas conveniências dos grupos que os fazem distribuir - contribuem para afastar a imprensa de sua missão.

E é por isso que o bom repórter jamais cairá em desuso. O repórter “farejador”, como se diz nas redações, capaz de driblar as dificuldades e garimpar as informações mais escondidas - o repórter com esperteza e sensibilidade para descobrir o que está errado e denunciar as injustiças -, tem nas mãos a essência do verdadeiro jornalismo. A informação que ele traz a lume é tão substancial que não se restringe a informar: ela transforma as pessoas e a sociedade.

Nada contra as receitas de bolos, os tutoriais de moda, as palavras cruzadas e os resumos de novelas. O grande problema - já dizia um jornalista - não é o que sai nos jornais, mas o que não sai. Algo vai mal quando a informação fica restrita ao serviço e ao passatempo. Um jornal sem reportagens de peso é como uma padaria que vende de tudo - menos pão.

Isso explica o orgulho que tomou conta desta casa quando, na sexta-feira (14/11), quatro dos nossos profissionais foram premiados na oitava edição do Prêmio ASI/Shaeffler Group de Direitos Humanos. Seus trabalhos pertencem a essa distinta categoria de reportagens escritas com inconformismo e indignação, atributos que nunca ficam embotados nos bons repórteres, mesmo depois de anos de serviço.

Coincidentemente, os três primeiros colocados na modalidade Jornalismo Impresso são companheiros da terceira turma da Uniso, formados em 2000. Gustavo Ferrari, o primeiro colocado, é pós-graduado em Jornalismo, Educação e Ciência pela PUC-SP e trabalha no Cruzeiro desde novembro de 2005. Wilson Gonçalves Junior, o segundo colocado (premiado pela reportagem “Eles tiram dinheiro de pedra”, publicada na “Folha de Votorantim”), trabalha na área desde 1998 e ingressou no Cruzeiro há apenas dois meses. Telma Silvério, a terceira colocada, é a mais antiga de casa: atua no Cruzeiro do Sul desde abril de 1992. Passou pelos setores da Digitação, Arquivo, Fotografia, Internet e Redação. Em 2003, já havia vencido o Prêmio Jornalístico ASI/LUK de Direitos Humanos, com uma reportagem sobre violência contra a mulher.

Ao repórter fotográfico Erik Pinheiro, contratado em novembro de 2007, coube uma dupla honraria. Com 12 anos de experiência em fotorreportagem, foi ele quem descobriu a pauta que deu origem ao texto premiado de Gustavo (“Infância comprometida”, Caderno de Domingo, 01/06/2008). E, trabalhando nessa mesma pauta, fez as fotos que lhe renderam o segundo lugar na categoria Fotojornalismo.

Erik e Gustavo foram várias vezes até um cruzamento do Campolim, onde dois irmãos de 14 e 10 anos vendiam salgados para os motoristas, em plena madrugada. Depois de uma aproximação lenta, ganharam a confiança das crianças e conseguiram chegar à mãe, que concordou em dar uma entrevista. Seu esforço mostrou a realidade do trabalho infantil, desmentindo a versão oficial, de que não existem crianças trabalhadoras na cidade. “A vitória - no meu ponto de vista - foi somente do jornalismo. Ele conseguiu que a família recebesse ajuda dos órgãos competentes (bolsa-família, bolsa-escola) e, também, fosse 'adotada' por um casal ligado à área da saúde, que tem doado, todos os meses, alimentos e mantimentos necessários”, afirma Gustavo.

E é essa vitória do bom jornalismo que este jornal compartilha com seus leitores, reafirmando seu propósito de buscar a informação com ética, coragem e independência, no interesse da comunidade e dos cidadãos.

Editorial do jornal Cruzeiro do Sul de hoje

domingo, 16 de novembro de 2008

Reportagem premiada

Aldo V. Silva/Os premiados
A reportagem 'Infância Comprometida' - pauta do repórter-fotográfico Erick Pinheiro - publicada em 1 de junho de 2008, no jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, venceu o 8º Prêmio Jornalístico ASI/Schaeffler Group de Direitos Humanos, na categoria Jornalismo Impresso, e garantiu a Gustavo Ferrari o troféu 'Vitor Cioffi de Luca'. Maior que o prêmio é saber que as crianças - protagonistas da história - estão sendo assistidas por órgãos competentes e a família, ajudada por um casal ligado à área da saúde. Vitória do jornalismo.

A matéria

Campolim, 0h45 do dia 10 de maio - uma sexta-feira. Os termômetros registram 13ºC. Na pista de caminhada, centenas de jovens se divertem ao som que sai dos altos falantes dos veículos. 'Dança do Créu', 'Festa no Apê' e 'Tropa de Elite' são algumas dessas músicas. Garotas, aparentando 14 ou 15 anos, se embebedam com garrafas de vinho tinto barato. Garotos consomem maconha. Na avenida Domingos Júlio, no semáforo em frente a um fast food, uma triste realidade se desenha na fria noite de outono.

O corpo franzino não amedronta F.V. de lutar pela sobrevivência. Com uma mochila nas costas e um boné vermelho, o menor, de 14 anos, acompanha a irmã G.F., de 10, em um longa jornada pela madrugada. As bandejas que carregam contêm salgados feitos pela mãe. Alimentos estes que irão garantir o sustento da própria família, caso consigam vendê-los aos clientes de sempre: jovens baladeiros.

F.V. não estuda. A diarista maringaense, que está desempregada, Sônia Vanzzella, de 35 anos, não conseguiu matriculá-lo na EE Monteiro Lobato. O motivo alegado: falta de vaga. Ele parou os estudos na 7.ª série. Junto de seus oito filhos, a dona de casa reside em um barraco que ela mesma construiu na rua oito, localizada no Jardim Novo Mundo, em Votorantim.

O lar tem cinco metros quadrados. Há fogão, geladeira, armário, mesa, beliche, uma televisão e até aparelho de DVD. "Tudo comprado com o sacrifício dos meus filhos", diz a mulher, divorciada dos três maridos que teve.

Apenas um deles paga pensão de R$ 100. É o único dinheiro fixo que Sônia recebe para manter os oito filhos, contando a recém nascida D.C., de dois meses. "Tem dias que os dois (F.V. e G.F.) voltam para casa com R$ 40, 60. Outras vezes, conseguem apenas R$ 6, 10. Sabem que precisam ajudar a família e se oferecem. Nunca obriguei-os a fazer nada contra a própria vontade", justifica.


Erick Pinheiro/Os menores

Diferente do irmão, G.F. estuda na 4.ª série da EMEF Profª Mercedes Santucci. A escola fica a duas quadras de sua casa. À noite, somente nos finais de semana, a menor segue rumo ao Campolim para vender os salgados. Enquanto F.V. brinca com a freguesia, faz graça, dança e até conta piada para oferecer os alimentos, a menina vai fundo em seu objetivo. "Tá afim de um salgado quentinho nessa noite fria?", pergunta a um motorista que acabara de parar o veículo no semáforo. Sua voz, de uma criança fragilizada, consegue comover. Reduz-se então, pela metade, o peso da bandeja na sexta-feira.

Ônibus

Os menores chegam ao Campolim por volta das 23h, vindos no ônibus circular do Jardim Novo Mundo. A distância de 10 quilômetros parece não incomodar a dupla, que desce em um ponto da avenida Antônio Carlos Comitre, com disposição. O percurso se repete todos os dias, menos no domingo, quando descansam. Voltam para casa por volta da 1h30.

F.V. conta que começou a vender os salgados após passar pelo local durante seguidas noites. "Percebi que a movimentação era boa e que as pessoas poderiam sair das festas com fome. Como precisam parar no semáforo, sempre tem gente que compra", afirma.

Os salgados são feitos com farinha de trigo e recheio de salsicha. Custam R$ 2 cada. "Não é caro e garanto: é gostoso! Ninguém se arrepende", frisa o menor, que já foi assaltado quando retornava para casa. "O marginal apareceu do nada, perto da praça de eventos de Votorantim. Me roubaram o celular e R$ 40 que tinha conseguido através das vendas. Fazer o quê", ressalta.

Piedade

A mãe dos menores, Sônia Vanzzella, lembra que a venda de salgados pela família começou quando morava em Piedade. "Meu filho aprendeu nas ruas de lá; ia de casa em casa e sempre voltava com dinheiro. Não acho isso errado. É uma forma de sobreviver", destaca.

Ela disse que sonha em um dia mudar a vida de todos. "Para isso, busca um emprego. Se eles (F.G e G.F.) não vendessem, todos nós passaríamos fome. Sempre ensinei meus filhos a não pedirem esmolas. É um trabalho digno, mesmo sendo menores de idade", argumenta.

Sônia se recorda da infância ao explicar a atitude dos filhos, que passam à noite no semáforo. Conta que cria os oito sozinha, sem ajuda externa. Acredita dar uma boa educação a eles. "Já cheguei a catar comida em tambor, atrás da Padaria Real, no próprio Campolim, para comer. Sempre fui boa mãe. Como não tenho estudo, acho que faço o melhor. Digo sempre: não é porque vocês não têm pai que serão uns marginais. Nunca meus filhos mexeram com coisas ilegais. Isso não é bom?", finaliza.

Escola

A menor G.F., de 10 anos, estuda na EMEF Profª Mercedes Santucci, no Jardim Novo Mundo. Matriculada na 4.ª série, ela manteve notas boas e freqüência de 90% em todo o primeiro bimestre. De 56 aulas, não compareceu em apenas seis.

A diretora da escola, Rosangela Ramires, ficou 'chocada' ao ver as fotos da menina na noite do dia 10 de maio. Nunca imaginei isso com um dos nossos alunos. "É uma realidade muito distante da que vivemos. Estou sem palavras", disse.

A professora de Educação Básica I, Débora da Silva Corrêa, lembra que G.F. se dedica aos estudos como qualquer aluna regular. "Fazemos de tudo pela educação e, ao mesmo tempo, não alcançamos o objetivo esperado. Dói demais saber que ela passa por esta situação à noite. Fico pensando: como podemos ajudar?", ressalta.

Notas

Em todas as disciplinas, G.F. atingiu a média do bimestre. Em Língua Portuguesa, a menor obteve o conceito S (atingiu os objetivos essenciais). Em História, o conceito foi o B (atingiu todos os objetivos). Em Geografia, Ciências e Matemática, os conceitos também foram S. Já em Educação Artística e Educação Física, a média foi B.

Afonso Vergueiro

A situação vivida pelos menores F.V. e G.F. no Parque Campolim é a mesma enfrentada pelo menor G., de 4 anos. Em plena luz do dia, ele e os dois irmãos, P., de 9, e R., de 14., que residem no Conjunto Habitacional Ana Paula Eleutério (Habiteto), se arriscam entre os veículos que transitam pela avenida Afonso Vergueiro, no Centro, para vender balas de goma.

"Venho com meus irmãos", disse o menor à reportagem do Cruzeiro do Sul. Com um pacote contendo cinco drops, G. oferece as balas aos motoristas que param no semáforo do cruzamento da avenida com a rua Professor Toledo. Cada unidade custa R$ 1.

Um erro

A Secretaria da Cidadania (Secid) informou que desde a criação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), em 2003, não há registros de trabalho infantil na cidade, e ressalta que o trabalho do Centro Especializado de Referência Social (Creas) identifica as crianças que encontram-se em risco de trabalho infantil e realiza um trabalho preventivo.

A Secid lembra que as crianças em risco são encaminhadas para o Centro de Referência e Atendimento aos Maus Tratos na Infância (Crami) e para o Projeto Educarte. Nesses projetos, segundo a secretaria, as crianças fazem atividades que promovem a conscientização de seus direitos e deveres, resgatando os valores de cidadania.

Também são realizadas atividades culturais, esportivas, artísticas e de lazer, incentivando-os a ampliar seus conhecimentos. As principais atividades, de acordo com a Secid, são orientação escolar (reforço, lição de casa), coral, dança e teatro, artesanato, aulas de auto-ajuda, capoeira, história, noções de higiene e saúde, orientações sobre sexo, doenças, maternidade precoce, apoio psicológico e terapia ocupacional.

A secretaria ressalta que o Peti proporciona o atendimento para 100 crianças/adolescentes. Destas, 50 são atendidas pela entidade Crami e outras 50 pelo Projeto Educarte, desenvolvido pela própria Secid. Já a campanha Esmola não dá Futuro é permanente. Acontece todos os dias da semana, por meio do trabalho da ronda, acrescenta a nota encaminhada ao Cruzeiro.

Que cidade estamos construindo?


Erick Pinheiro/Farto Neto

O promotor da Infância e Juventude, Antônio Domingues Farto Neto, ao ver as fotos dos menores à noite no semáforo do Campolim, questiona: "Que cidade estamos construindo?". Para ele, um bom trabalho desenvolvido pelo Conselho Tutelar poderia impedir tal situação.

Farto Neto diz que Sorocaba vive um drama. Quanto mais ela cresce, mais os problemas aumentam. "Novos investimentos chegam e, com eles, a pobreza", disse. O promotor lembra que caberia ao Conselho Tutelar zelar pelas crianças do município. "O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) criou juridicamente o papel dos conselho para isso", ressalta.

Para ele, há a necessidade de se criar, na cidade, um trabalho especializado, não emergencial, mas de continuidade. "Essa situação (vivida pelos menores) revela a ponta de um iceberg. Temos que evitar a exclusão social infantil de forma multidisciplinar. É um problema epidêmico. Se ele começar, reverter a situação será mais difícil. É preciso políticas públicas eficazes", afirma.

7 conselheiros

Segundo o titular da Infância e Juventude, com os sete funcionários que atuam no Conselho Tutelar de Sorocaba, é "impossível" uma fiscalização adequada. O promotor aponta uma campanha benéfica para a cidade como exemplo, e que foi retirada das ações da Secretaria da Cidadania (Secid) em 2007: o Esmola não dá futuro. "Era uma coisa muito boa para os jovens, que ficavam pedindo dinheiro nos semáforos. Precisa-se trabalhar em cima desse problema, sempre", conclui.

Comentários

O editor-chefe do Cruzeiro, Eugênio Araújo, destacou que os prêmios representam o reconhecimento do trabalho jornalístico. "O jornalismo, a questão ética, a defesa das liberdades democráticas formam o ponto principal de todo o trabalho do Cruzeiro do Sul. Desde o início dessa premiação o jornal tem cumprido a sua grande missão", afirmou.

Para Laor Rodrigues, que na solenidade representou a diretoria da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), mantenedora do jornal Cruzeiro do Sul, os prêmios têm um significado muito grande não apenas para o Cruzeiro do Sul, mas para a imprensa sorocabana. "A FUA e o jornal Cruzeiro do Sul sentem-se muito orgulhosos de ter recebido alguns prêmios nessa edição", disse. E enfatizou que a TV Com (também premiada na solenidade), mesmo com orçamento pequeno, também tem realizado excelentes trabalhos, e obtido o reconhecimento público.

by Gustavo Ferrari e Cida Vida

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira, real!

Blindness/Reprodução/IMO Artes
Quem já assistiu ao filme Ensaio sobre a Cegueira, do cineasta Fernando Meirelles, sai do cinema impactado de várias maneiras. O enredo começa num ritmo acelerado, com um homem que perde a visão de um instante para o outro enquanto dirige de casa para o trabalho.

Após este primeiro episódio, uma a uma, cada pessoa com quem ele se encontra - sua esposa, seu médico, até mesmo o "aparentemente bom samaritano" que lhe oferece carona para casa - terá o mesmo destino. À medida em que a doença se espalha, o pânico e a paranóia contagiam a cidade. As novas vítimas da "cegueira branca" são cercadas e colocadas em quarentena num hospício caindo aos pedaços, onde qualquer semelhança com a vida cotidiana começa a desaparecer.

Nos consultórios oftalmológicos, a pergunta mais freqüente ouvida pelos médicos, após a estréia do filme, é se os casos de cegueira súbita são comuns. "Qualquer um pode ser acometido pela súbita falta de visão em meio ao caótico trânsito de São Paulo?",questionam os pacientes.

Segundo o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares (IMO), quando a visão diminui ou desaparece nos dois olhos, ao mesmo tempo, como no enredo de Ensaio Sobre a Cegueira, os motivos são, na maioria das vezes, de ordem neurológica. "O olho é uma extensão do sistema nervoso central. Um quadro neurológico agudo pode ocasionar cegueira súbita. Entre os problemas neurológicos, a enxaqueca é uma das causas mais comuns. Algumas enxaquecas podem causar cegueira transitória".

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaléia, a enxaqueca com aura - alterações de visão - acomete de 10% a 15% dos pacientes, e os casos de cegueira parcial são raros. Os de cegueira total, então, são raríssimos.

Além das enxaquecas, algumas doenças sistêmicas também podem levar à perda de visão. Pacientes que sofrem de hipertensão arterial e que apresentam colesterol alto são mais propensos à baixa de visão, que pode ser repentina e total. "Uma queixa comum dos pacientes hipertensos é o aparecimento de moscas volantes, que podem ser descritas como pontos pretos, manchas escurecidas ou fios que se assemelham às teias de aranha, observados, principalmente, quando o paciente olha para uma parede branca ou para o céu claro", relata o oftalmologista Eduardo de Lucca, que também integra o corpo clínico do IMO.

No caso das doenças sistêmicas, o diabetes também é fator de risco, pois afeta a retina, e pode deteriorar a visão da noite para o dia. Uma das mais sérias comorbidades do diabetes é a retinopatia diabética, caracterizada por alterações vasculares, lesões que aparecem na retina, podendo causar pequenos sangramentos e a perda da acuidade visual.

Pacientes que apresentam miopia alta – que usam lentes corretivas com mais de dez graus – também têm maior predisposição para a cegueira súbita, mas neste caso, é possível prevenir o problema. "É preciso fazer rotineiramente um exame de retina", explica Lucca.

Além dos fatores já citados, outras razões podem provocar a perda de visão subitamente, como inflamações do nervo óptico, das meninges, deslocamento de retina, obstrução de veias e artérias ligadas ao globo ocular e o glaucoma. "A cegueira súbita acontece com mais freqüência em apenas um olho. E, em muitos desses casos, o paciente pode não perceber claramente a baixa da visão", conclui.

Sulzberger: jornais com os dias contados?

NYT publisher
Apesar de dados da Associação Mundial de Jornais indicarem um crescimento já consolidado na venda e circulação deste tipo de veículo, um dos maiores meios do mundo deu sinais de que pode desaparecer em alguns anos do mercado impresso.

O presidente do grupo editorial responsável pelo The New York Times afirmou, em recente entrevista ao jornal israelense Haaretz, que a editora pode desistir dos jornais impressos para dedicar-se apenas à Internet.

As publicações do grupo vêm, há pelo menos quatro anos, apresentando prejuízos astronômicos, explicitados, inclusive, em editoriais. O Boston Globe, por exemplo, fechou 2006 com US$ 570 milhões no vermelho.

Por outro lado, o NYT já chegou a registrar mais leitores diários em sua página de Internet do que no jornal impresso; a edição online aponta 1,5 milhão de acessos diários, enquanto o número de assinantes da edição impressa é de 1,1 milhão.

Arthur Sulzberger disse ao Haaretz que o grupo chegou a um momento crucial, no qual deve decidir se vai manter ou não as edições impressas de suas publicações e reformular relações com profissionais e anunciantes.

"Não sei realmente se daqui a cinco anos ainda vamos imprimir o Times e, na verdade, não importa muito", afirmou. "O fundamental é se concentrar no melhor modo de operar a transição da folha impressa à Internet". (Fonte: Portal Imprensa/ANSA)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Padres do Vaticano terão de bater ponto

Santa Sé/Divulgação
Padres e funcionários terão de bater ponto a cada vez que entrarem e saírem do Vaticano. A medida havia sido extinta há 50 anos pelo papa João 23, mas agora está de volta em uma versão modernizada.

Cerca de 2 mil funcionários terão de passar um cartão em um leitor eletrônico para registrar o tempo que passaram dentro do Vaticano. Os cartões serão obrigatórios para todos os funcionários, incluindo padres e arcebispos, mas não houve menção sobre se papa Bento 16 também terá de cumprir a nova norma.

Há relatos de que clérigos mais velhos tenham reclamado do novo sistema, alegando que muitas vezes se ausentam do Vaticano para cumprir tarefas pastorais. No ano que vem será implementando um sistema para medir a eficiência do trabalho dos empregados. Efeitos da modernidade! (Fonte: BBC News/Folha de São Paulo)

Vacina contra Aids falha e facilita infecção

HIV2/Reprodução/Arte
A vacina experimental de luta contra a Aids criada pelo laboratório americano Merck, cujo teste clínico foi paralisado repentinamente no final de 2007, facilitou a infecção pelo vírus HIV. A informação é o resultado de um estudo realizado por pesquisadores franceses e divulgado ontem nos Estados Unidos.

A pesquisa, realizada no Instituto de Genética Molecular de Montpellier (França), mostra como essa vacina, que despertou grande esperança para vencer a Aids, não apenas foi ineficaz para impedir a infecção com o vírus, como a facilitou.

A vacina, utilizada pela Merck nos testes, era baseada em uma amostra enfraquecida de um vírus muito comum do resfriado, o Adenovírus 5 (Ad5), como vetor de porções de HIV no organismo. Essas porções deveriam deflagrar, normalmente, uma resposta do sistema imunológico contra uma infecção posterior pelo HIV.

O que ocorreu foi que os anticorpos gerados pela vacina se ligavam à superfície das células imunológicas e facilitavam a entrada de partes do vírus HIV. Uma vez dentro da célula, o HIV infecta a célula, especialmente os linfócitos T, principal componente do sistema imunológico.

A constatação foi comprovada quando os cientistas descobriram, três anos depois do início do teste clínico, que um número de participantes que receberam a vacina experimental e tiveram uma resposta imunológica aos adenovírus era cada vez mais numeroso em termos de infecção pelo HIV.

A pesquisa, publicada na versão online do Journal of Experimental Medicine, mostra que a presença durável, no organismo, dos anticorpos gerados no ciclo natural das infecções com os adenovírus pode alterar a resposta imunológica à vacina anti-HIV.

Uma das preocupações causadas pela vacina Ad5 foi que a reação imunológica do corpo ao adenovírus provocasse uma rejeição da vacina por parte do organismo antes que uma resposta anti-HIV pudesse se desenvolver, explicam os cientistas.

De fato, o HIV se propagou em culturas celulares em laboratório três vezes mais rápido na presença de anticorpos produzidos para reagir à infecção pelo adenovírus Ad5.

A vacina da Merck foi testada, a partir de 2004, no Brasil, Estados Unidos, Austrália, Peru, Porto Rico e África do Sul. Ao contrário das vacinas tradicionais, já testadas sem sucesso contra o vírus da Aids e que tentam reforçar a imunidade do organismo, essa vacina visava a estimular os linfócitos T. (Fonte: France Press/Folha de São Paulo)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Show da Ivete: festival de excessos na sexta

Aldo V. Silva/Glicose intravenosa
Jovens sendo carregados, desacordados; menores de idade consumindo álcool e drogas, e também vendendo para outros; maiores de idade propagando a desordem; nos banheiros químicos, adolescentes trocando 'experiências sexuais'.

Para os oito voluntários do Poder Judiciário do Juizado da Infância e Juventude, o cenário promovido pelos jovens - que não teve nada a ver com a produção do show da Ivete Sangalo, que trabalhou dentro dos princípios éticos e morais - havia se transformado em uma "verdadeira balbúrdia". Já para a Polícia Militar (PM), que fazia a segurança preventiva fora do recinto, uma "calmaria". O saldo disso tudo: um maior de idade preso, com R$ 1.500,00 em notas falsas de R$ 50 e R$ 100; mais de 60 pessoas atendidas na enfermaria; dezenas de doses de glicose intravenosa aplicadas; pais sendo acionados pelas autoridades e brigas esporádicas nas redondezas da Ceagesp. Até às 23h a cantora baiana não havia subido no trio-elétrico Demolidor para cantar.

"Há pessoas sem condições de assistir ao show. Em vez de vir para assistir o espetáculo, vêm para beber e arrumar confusão. Uma verdadeira balbúrdia, com cenas deploráveis de comportamento anti-social, inclusive com pessoas mantendo relações sexuais nos banheiros. A organização, que foi muito boa, não deu conta de conter todos os excessos, que foram muitos. Uma situação precária, em um lugar que ninguém demonstra ter educação", desabafou o chefe dos oito voluntários, que tentava devolver a ordem ao lugar, Luiz Celso Xavier de Souza.

Os responsáveis pelo judiciário foram unânimes em afirmar: "Este tipo de evento deveria ser permitido só para maiores de 18 anos". Os três médicos, contratados para atender as mais de 13 mil pessoas que compareceram à Ceagesp, não deram conta da demanda de jovens desacordados devido à ingestão de álcool e drogas. "Tem muita gente em estado ruim", disparou um dos médicos, que chegou a solicitar, por telefone, o apoio de outros colegas ao local.

Segundo Souza, um relatório, contendo os atendimentos do serviço ambulatorial do evento, junto dos registros policiais das ocorrências, será produzido e levado, na próxima semana, ao conhecimento do juiz da Vara da Infância e Juventude. "Teve muita gente vinda de fora de Sorocaba; nem sempre é possível identificar todos", ressaltou.

Prisão

Por volta das 19h, um rapaz foi preso, em flagrante, pelos voluntários do Poder Judiciário, repassando notas falsas de R$ 50 e R$ 100 fora do recinto. Com ele foram apreendidos R$ 1.500,00. Ele foi levado pela Guarda Municipal (GM) ao plantão policial da Zona Sul.

Fiscais da Prefeitura de Sorocaba apreenderam a mercadoria (garrafas de vodka, cachaça e latas de cervejas) de mais de 50 ambulantes. "Vender bebida não é proibido. Não estou entendendo esta ação", gritou um dos ambulantes fiscalizados.

Brigas também foram presenciadas pelas autoridades. Um menor chegou a ser espancado por três jovens. Uma garota também foi agredida. No estacionamento externo, um menor de 17 foi detido vendendo pinga de metro. Com ele, os voluntários encontraram, também, seis latas de cerveja dentro de uma mochila. "Vim com meu pai, que trabalha como ambulante", disse o menor.

O Poder Judiciário acionou mais de 60 pais, que compareceram ao local. Lá encontraram seus respectivos filhos embriagados ou desacordados. "Esse é o efeito da juventude de hoje, que não mede esforços para abusar e enfrentar as autoridades. A sociedade precisa tomar ciência do que ocorre na noite e, principalmente, em eventos dessa natureza", finalizou Souza.

by Gustavo Ferrari

Onde os cisnes se escondem?



by Gustavo Ferrari

Catching the Cat Fish

Gustavo Ferrari/Cat Fish no alicate
Sexta-feira passada, eu e o repórter policial do Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, Marcelo Roma, fomos pescar. A carpa de 15kg, retirada do Rio Sorocaba, nos motivou. Durante três horas, a isca de calabreza atraiu menos de uma dezena às varas. Resultado: fisgamos meia-dúzia, entre pacus e cat fishes.

Roma, como bom pescador, orientou o manejo correto da carretilha. E não poupou esforços para tirar os vertebrados da água.


Marcelo Roma/O último pescador

Ao nosso lado, um pescador - profissional - puxava tilápias usando ração Faro para cachorro. Uma, duas, três e até quatros "rodelinhas" por anzol. "Eles adoram", disse, frustrando a minha pescaria, que quase não existia.

Enquanto peguei três peixes em três horas (um por hora), o profissional puxou mais de 30. Fiquei envergonhado, e falei a Roma: "O bom é que não viemos para competir".

by Gustavo Ferrari

41% viram alcoólatras a partir dos 34 anos

Mais uma dose/Divulgação online
A partir dos 34 anos de idade, o alcoolismo passa a se tornar um problema crônico. É o que aponta estudo da Secretaria de Estado da Saúde com base nos atendimentos a dependentes realizados entre janeiro e setembro deste ano pelo Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) - serviço da Pasta na região central da Capital.

Segundo o levantamento, 41% dos 285 pacientes diagnosticados como alcoólatras, e que passaram a fazer tratamento na unidade, tinham entre 34 e 44 anos. A grande maioria, 89%, era homem. A faixa etária dos 45 aos 55 anos respondeu por 23% dos pacientes. Outros 18,2% tinham entre 23 e 33 anos.

"As pessoas viram alcoólatras antes mesmo de chegar à meia idade porque normalmente começam a tomar bebidas alcoólicas ainda quando adolescentes. Sem se dar conta, muitas delas passam a beber todos os dias e, quando percebem, não conseguem mais ficar sem a cerveja, a pinga, o conhaque", afirma a diretora do Cratod, Luizemir Lago.

Os alcoólatras representaram 45% dos pacientes acolhidos pelo Cratod em 2008, seguido pelos dependentes de cigarro e derivados do tabaco, que representaram 31% do total. Em terceiro lugar vieram os usuários de cocaína, com 24%, seguidos pelos dependentes de maconha, com 15%.

No Cratod, os pacientes recebem atendimento por uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas e assistentes sociais. Além de consultas, os alcoólatras passam por dinâmicas de grupo, participam de oficinas e recebem medicação gratuitamente.