quarta-feira, 22 de julho de 2009

O reconhecimento do jornalismo investigativo

Reprodução: twitter na Abraji
Parabéns ao jornal Cruzeiro do Sul pela esclarecedora matéria do Caderno de Domingo (19/07), intitulada 'Caminhos do Quarto Poder', sob a competente reportagem do jornalista Marcelo Andrade.

Foi uma grata oportunidade em conhecer melhor a importância dessa ferramenta, sobre tudo, a forma profissional, ética, responsável e imparcial que deve nortear as atividades dos meios de comunicação que atuam com o jornalismo investigativo.

O comprometimento com a verdade sobre as informações de interesse e domínio público deve permear a lisura permanente no desenvolvimento das atividades profissionais, contribuindo na construção de uma democracia que possibilite à comunidade o exercício de 'cidadania plena', doa a quem doer...

Por fim, parabéns a todos os profissionais da imprensa sorocabana, em especial, nas pessoas dos profissionais do JCS, Eugênio Araújo, Gustavo Ferrari e Leandro Nogueira, que muito bem representaram a capacidade e competência dos 'caipiras do interior' no 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), realizado nos dias 09 a 11 de julho, na Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo.

Viva a liberdade de imprensa!

by Sérgio Ponciano de Oliveira, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba (SSPMS)

O jornalismo pede passagem

Gustavo Ferrari durante palestra no congresso da Abraji
Na semana passada, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), acuado por denúncias de irregularidades - diga-se de passagem, graves o suficiente para que o colega de partido e correligionário Pedro Simon (RS) defendesse abertamente seu afastamento -, subiu à tribuna para fazer um desabafo que já se tornou clichê em casos assim.

Para Sarney, o tsunami de escândalos que o tem atingido - e que outro senador peemedebista, Álvaro Dias (PR), definiu como uma tragédia ética que se abate sobre o Senado -, não passa de uma campanha pessoal movida pelo jornal O Estado de S. Paulo, que os demais veículos de imprensa acabam repercutindo.

Mesmo sem querer, Sarney tirou o chapéu para a qualidade do jornalismo investigativo praticado em relação ao Senado e à sua pessoa. Fossem efetivamente mentirosas as denúncias, o senador pelo Amapá subiria à tribuna com documentos e provas para demonstrar cabalmente sua inocência.

Político veterano com passagem pelo cargo mais alto do país, Sarney deveria saber que só ataca o jornal quem não consegue responder aquilo que o jornal publica. Tentativas de tapar o sol da informação com a peneira da campanha movida pela imprensa funcionam, na prática, como uma confissão implícita de que as acusações são irrespondíveis. Na falta de argumentos para rebatê-las é que se apela para a desqualificação de quem as veiculou.

As descobertas de irregularidades praticadas pelo Senado não teriam existido sem um jornalismo competente, marcado pela independência em relação aos ocupantes do poder e pelo compromisso ético com a população à qual a imprensa se dispõe a servir. Esse jornalismo é, ainda, pedra rara no garimpo da imprensa.

Embora a expressão jornalismo investigativo pareça um pleonasmo - é impossível imaginar uma forma de jornalismo que prescinda da investigação -, a verdade é que nem tudo o que se publica ou se leva ao ar é feito com profundidade, abrangência, conhecimento e capacidade de desconfiar.

O jornalismo burocrático e de serviços, que se contenta em reproduzir press-releases e fazer a cobertura da agenda mais superficial de cada dia, fez escola no Brasil e afastou leitores dos jornais impressos nos últimos anos.

Erick Pinheiro/Guga fala sobre o case 'Trabalho Infantil'


Não é uma coincidência que o jornalismo investigativo, assim como o bom texto e a reportagem de fôlego, voltem a ser valorizados ao final de um tempo de imediatismos e concepções distorcidas, em que as notícias encolheram em tamanho e profundidade.

No novo cenário da imprensa mundial, a internet pulverizou a informação de tal forma que se tornou impossível competir pela preferência dos leitores apenas com serviços e coberturas pontuais. Ninguém pagará para ter esse tipo de material, disponível em profusão na web.

A briga pela liderança entre os órgãos de imprensa, sejam eles impressos, eletrônicos ou on-line, depende cada vez mais do material exclusivo, da reportagem bem apurada, do texto bem escrito e, principalmente, da credibilidade de quem informa - coisas que não se encontra com facilidade por aí.

Este jornal fica feliz por constatar que está absolutamente sintonizado com essa visão moderna e democrática de jornalismo, ao colocar entre suas prioridades a lavra de informações exclusivas, sem descuidar dos princípios éticos, da qualidade da informação e da independência editorial.

Um resultado palpável dessa postura foi colhido recentemente, com a participação de dois repórteres desta casa, Gustavo Ferrari e Leandro Nogueira, como expositores, no 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) entre os dias 9 e 11 de julho, em São Paulo.

O convite para que os profissionais participassem do evento mais importante do jornalismo investigativo no Brasil, expondo reportagens publicadas neste jornal, é um reconhecimento ao esforço de nossa equipe e aos valores que orientam o jornalismo praticado pelo Cruzeiro do Sul, de Sorocaba (SP), além de um estímulo para que procuremos melhorar cada vez mais.

Editorial do jornal Cruzeiro do Sul, de 21 de julho de 2009

A pedofilia e a relação com a internet

Fotomontagem: Gustavo Ferrari
O Código Penal brasileiro contempla uma variada possibilidade de violações e crimes contra as pessoas, como estupro, infanticídio, homicídio, dentre outros. Entretanto, uma modalidade grave não consta entre as previstas e sua ocorrência suscita elevada preocupação: a pedofilia.

Na agenda do dia constam debates infindáveis sobre a descriminalização da maconha, a autorização do aborto, a redução da maioridade penal, a eutanásia, etc. E sobre a pedofilia os olhares parecem ser furtivos, pois, até tramitam alguns projetos, porém, nada de efetivo. Nem uma singela linha consta no ordenamento penal nacional.

O Brasil ainda caminha em passos lentos no que tange ao combate à pedofilia. E para agravar ainda mais a questão, a tecnologia possibilita o aprimoramento de meios cada vez mais insidiosos sobre o tema que sobrepujam a inércia do legislador e atentam contra as crianças brasileiras.

Em tempos de globalização e descarte tecnológico, o maior aliado do pedófilo se tornou o computador, mais especificamente a internet.

Pessoas que mascaram sua identidade e criam um perfil falso com o interesse de atrair crianças para exercer sua demência, e como subterfúgio criam meios que ofertam propostas de trabalho como modelo, fotos artísticas, dentre outras, quando, na verdade, se tratam de joguetes para abuso infantil e pedofilia.

Nesse diapasão temos a produção de vídeos com crianças fazendo cenas que muitas vezes nem sabem do que se trata, mas são configuradas como pornografia infantil. O menor, constrangido, não sabe se o que foi feito é certo ou não e os danos psicológicos causados podem ser detectados somente muito tempo depois.

O comércio desse material na internet propaga ainda mais a pedofilia, pois, quem compra e assiste online também pratica o evento danoso. Mas como responsabilizar o emissor e o receptor se a lei é falha, ou melhor, inexistente?

Com a tecnologia é relativamente fácil um pedófilo forjar endereços ip falsos para assistir e fabricar material advindo de pedofilia. E nada obsta que o passo seguinte seja o oferecimento pessoal a menores de idade.

A dificuldade do enfrentamento reside na variada possibilidade de camuflar o delito, pois como provar que um maníaco se masturbou ante a uma criança através de um chat? Como rastrear um vídeo de uma criança sendo tocada nas partes íntimas por um adulto, se o site tem origem inexistente, ou melhor, dados falsos?

Na agenda do dia deve conter como debate necessário o combate a essa modalidade vil e covarde de crime, porque uma criança por conta da selvageria praticada por um inconseqüente pode ter todo o seu futuro maculado. E esse deve ser o prêmio? Uma vida danificada? A juventude perdida?

by Antonio Gonçalves, advogado, mestre em Filosofia do Direito e doutorando pela PUC-SP. É especialista em Direito Penal Empresarial Europeu pela Universidade de Coimbra (Portugal), e em Criminologia Internacional: ênfase em Novas armas contra o terrorismo pelo Istituto Superiore Internazionale di Scienze Criminali, Siracusa (Itália)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Silje = Anneke?

'All You Are' é o novo clipe da banda holandesa The Gathering, single do recém-lançado 'The West Pole', com a vocalista Silje Wergeland (ex-Octavia Speratti). A voz dela é parecida com a de Anneke Van Giesbergen (ex-vocalista do grupo). Good!



by Gustavo Ferrari

domingo, 12 de julho de 2009

O dia em que segui o mestre

Conti e Talese: aplausos na Tenda dos Escritores
Gay Talese caminha apressado. Puxa a esposa, Nan, de braços dados em direção à Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios, no centro histórico da histórica Paraty, Rio de Janeiro.

O calçamento irregular da cidade, formado por pedras 'pé-de-moleque', não dificulta os passos noturnos do jornalista e escritor norte-americano de 77 anos, estrela da 7.ª edição da Festa Literária Internacional (Flip).

Quatro minutos foi o tempo que levou da pousada onde estava hospedado ao assento localizado na segunda fileira de bancos à direita da entrada principal. Não perderia, às 20h30, uma seleção de Choros, que incluía Pixinguinha, Benedito Lacerda e Ernesto Nazareth, executados pelo quinteto Kaleidos.

"O importante para um repórter é vivenciar fatos, presenciar fatos, contar fatos. Repórter precisa contar o que vê", ensina.


Painel = Bandeira

A maratona de Talese, no penúltimo dia da festa, começou cedo. Logo pela manhã, recebeu repórteres e estudantes na porta da Pousada Ouro. Sugeriu dicas, deu orientações, contou curiosidades da carreira e deixou um recado: "Escrever não é um jogo de produtividade, mas de qualidade, de algo que se possa ler com o passar do tempo e que continue relevante". O mestre do 'new journalism' foi aplaudido.

Duas horas antes da mesa 'Fama e Anonimato' começar,- que traria o editor da revista Piauí, Mario Sergio Conti, fazendo perguntas a Talese -, fãs do escritor, autor de livros como 'A Mulher do Próximo', 'Honra Teu Pa' e 'O Reino e o Poder - Uma história do The New York Times', buscavam ingressos remanescentes para assistir a apresentação na Tenda dos Autores.


Essa cena fez-me lembrar o Slava

Diferentemente dos anônimos, atrizes globais como Cissa Guimarães, Malu Mader, Regina Casé e Betty Gofman não enfrentaram filas: tinham lugares reservados nas principais cadeiras. O mesmo aconteceu com o humorista Claudio Manoel, interprete do personagem 'Seu Creysson', do também global Casseta e Planeta, e a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia.

Anônimos

Vestindo um terno creme alinhado, com colete impecável e gravata amarela,- o segundo conjunto do dia -, Talese respondeu aos questionamentos de Conti por uma hora. Narrou fatos que marcaram a sua vida enquanto repórter das revistas Esquire, The New Yorker e do jornal The New York Times.


Talese autografa diversos livros

"Procuro a integridade em meus textos. Sou um observador acima de tudo", disse, logo no início, após responder a primeira pergunta de Conti, sobre o fato de ser filho de pais italianos, que cultuavam o ditador Benito Mussolini, mas viviam em Nova Jersey, Estados Unidos, um país contrário aos ideais italianos na Segunda Guerra Mundial.

"Meu pai era alfaiate e minha mãe o ajudava na loja que tinha. Vendia roupas. Aproveitei a infância para ouvir histórias contadas pelas clientes que lá estiveram, pois meu quarto ficava no segundo andar dessa loja. Meus pais eram diferentes durante o dia e a noite: na loja, eram a favor dos americanos, mas, em casa, eram totalmente italianos. Só falavam em italiano", ressaltou, lembrando: "Foi assim que descobri o valor do depoimento de pessoas anônimas, referindo-se às clientes que frequentavam a loja. São as pessoas anônimas que contam histórias verdadeiras".

Escritor de vidas

Na 7.ª edição da Flip, Talese trouxe ao Brasil sua recente obra: 'Vida de Escritor'. Nela, o jornalista, conforme conversa com Conti, descreve fatos que marcaram a carreira.


Tenda dos Autores vista à noite

"Já escrevi sobre variados temas: sexo, máfia, jornalismo, Frank Sinatra, Mohammed Ali, futebol, uma mulher que cortou o pênis do marido... às vezes, notícias são muito óbvias. Sou um defensor da não-ficção".

Em 'Honra Teu Pai', publicado em 1971, o escritor conta como foi reproduzir a história da máfia americana da família Bonanno. "Levo anos para conhecer as pessoas. Em média, demoro dez anos para escrever um livro. Bill Bonanno confiou a sua história em mim e nunca fiz algo que traísse essa confiança. Tudo o que ele descreveu, reproduzi com fidelidade. Essa quebra nunca pode existir".

A Conti, Talese expôs a reportagem que fez sobre a mulher que cortou o pênis do marido, John Wayne, então fuzileiro naval, e que acabou sendo recusada por uma editora.

"Quando recebi a informação fui atrás da tal mulher, Lorena Bobbitt. O problema é que, para chegar-se até ela, tive que procurar um agente, porque a mulher havia se transformado em celebridade. Passei meses apurando essa história, que acabou não sendo publicada". No início de carreira, completou o jornalista, diversos textos que escrevera foram recusados.


Constrangimento

Festa literária 'assusta'

Na última pergunta ao jornalista, Conti quis saber sobre o livro que Talese está escrevendo, em referência aos 50 anos do próprio casamento.

Fez uma indagação, questionando se o autor não iria expor a mais humilhações a esposa Nan, como o fizera em 'A Mulher do Próximo', de 1980, quando passou a frequentar bordéis para escrever sobre o tema 'prostituição'.

Incomodado com a questão, o escritor foi direto: "A abordagem desses assuntos é uma coisa complicada. Espero tratá-la com 'decência' e 'fidelidade'. Isso é tudo que tenho a dizer". Novamente recebeu aplausos.


Aglomeração: Tenda dos Autores

Com a mesma elegância e pose que tivera durante a entrevista com o editor da Piauí, Talese deslocou-se para a Tenda dos Autógrafos, local que o esperava para retribuir o carinho recebido na cidade histórica. Filas se formaram em busca de sua assinatura.

Em seu penúltimo compromisso do dia, o jornalista e escritor autografou livro por livro, sorriu para fotos, posou ao lado dos fãs. Em meio a um ou outro gole de água, voltava a sorrir. Transpirava felicidade. O suor que escorria à lapela do paletó parecia não incomodá-lo.


Talese e Nan rumam à igreja

Incansável, Talese,- que para a média de público presente à Flip, com faixa etária entre 30 e 40 anos, parecia um 'papai/vovô' -, se divertia com a situação.

Antes de seguir rumo à igreja, para assistir a seleção de Choros do quinteto Kaleidos, precisava voltar à pousada. Era a última troca de terno do dia.




by Gustavo Ferrari

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Paraty


Pedras na rua, águas turvas;
Sol que se põe e se opõe a encantos;
Tarde bela, maciça, rica...
Devaneio que estabelece segurança.

Sombra, mar, vento;
Riqueza histórica, tombada;
Caminhos que se cruzam, esquinas...
Macro poesia.

Leitura que traz o mundo;
Escritores de uma ilusão...
Sabedoria no ar, pureza total;
Encontros que não se esquecem.

Paraty em chamas, cinco dias;
Livros, poetas, autores...
Luzes baixas, velas, música;
Inteligência que contagia.

Cansaço tolerável, instantâneo;
Seiva que emana alegria;
Conteúdo que atrai...
Assim quis o destino.

by Gustavo Ferrari

Journalism by Talese


"Todos os jornalistas deveriam se preocupar com a precisão. O bom jornalismo são os fatos apenas."

"Bom jornalismo é contar histórias e transformar imagem em palavras."

"Quando eu estava na redação, há 40 anos, éramos outsiders. Hoje, temos o mesmo nível das pessoas que estão no poder."

"Esquecemos o principal: contar a verdade, lembrando-se que ninguém conta a nós a verdade completa."

"O que escrevi para blogs atualmente foi motivado pelo mesmo de 50 anos atrás, em minha primeira matéria."

"Ninguém desafia o governo hoje."

"Não creio ser necessário diploma para jornalismo. Curiosidade não se ensina na faculdade."

"No começo, cobria esportes, mas não me interessava o placar; me interessavam os atletas e as pessoas em torno deles."

"Escrever simples é difícil."

"Nunca criei histórias, eu observo tempo o bastante para escrever tão bem como se fosse ficção."

"A imprensa foi irresponsável com Michael Jackson, não provou as acusações de abuso e agora o trata como santo."

"É preciso haver confiança do entrevistado e conquistá-la é um processo lento como um namoro."

"Há muitas experiências a descobrir se vocês abandonarem os laptops e explorarem as situações no local."

from Twitter: @gaytalese_masp