Reprodução/Bloco de Mármore
Assim como um mito, que tem as suas ‘verdades’ registradas na história, a fotografia configura e delineia o campo da realidade absoluta, comprovada e sistemática, do ponto de vista primordial, que inclui uma proposta duradoura na ideologia da arte.
Um herói, que serve de referência analógica para uma pré-concepção de atos, modula a idéia de uma verdade, capaz de excitar a propositura de uma leitura aos interessados em descobertas míticas.
O registro de uma estória, que marca o ponto de vista da narrativa de uma fábula vivida por um índio infiel, por exemplo, demonstra uma 'realidade', mesmo que distante, do fenômeno que reina o campo semântico da comunicação. Se o personagem existe ou não, não importa. Ele está lá e serve de referência para a ampliação de outros contos, outros processos analíticos e, até mesmo, desejos inverossímeis.
Se pensarmos o Mito de Kamukua na fotografia, teremos uma exposição de cores, desenhos e formas espetaculares em relação ao modelo indígena de sentir, mesmo na infidelidade, a aproximação do próximo, do belo, do onipotente.
A aplicação discursiva do erótico e do prazer revela uma estética suave, que marca o tempo, revela conceitos e funde realidade com ficção. Transforma o irreal em algo próximo da gente e oferece a possibilidade de se criar, na natureza, uma imagem como perfeição.
Dessa forma, duas questões bastariam para nortear a problemática entre o mito e a fotografia, sob a visão, macro, das aventuras indígenas de um adúltero:
1. Como as representações que uma determinada fotografia oferece se concretizam diante da exposição de uma estória?
2. É possível apontar conceitos que denotam as primícias literárias, os modelos intelectuais e os atrativos de referência a uma imagem?
by Gustavo Ferrari