Trio condenado em Itu/Luiz Setti
Após 13 horas, o Tribunal do Júri de Itu condenou o instalador de ar-condicionado Thiago Martins Bandeira, de 21 anos, a 16 anos de prisão, por executar o advogado Humberto da Silva Monteiro, com um tiro na cabeça, no começo da tarde do dia 26 de janeiro de 2006, na rua Capitão Flemining, no centro da cidade, e por tentar matar o radialista Josué Soares Dantas Filho.
O segurança Luís Antônio Roque, o Tonhão, de 42 anos, também foi condenado a 16 anos de prisão. Foi ele quem contratou Thiago. Eduardo Aparecido Crepaldi, de 21 anos, foi condenado a 10 anos e oito meses de prisão. Ele pilotou a motocicleta, que levava Thiago na garupa, o autor dos cinco disparos de revólver calibre 38.
O assassino do advogado declarou que fora contratado a mando do ex-vice-prefeito de Itu, o empresário Élio Aparecido de Oliveira Júnior, para “dar um susto” em Dantas. O Ministério Público (MP) quer que Oliveira, atualmente vereador em Ribeirão Preto, vá a júri popular como o “mandante do crime”. Ele, que recorre do pedido, em Brasília, nunca chegou a ser preso. Declara-se inocente.
O julgamento começou com uma hora de atraso devido a espera da esteriotipista, residente em São Paulo. Oito jurados, de um total de 25 que estavam disponíveis a serviço da Justiça, foram rejeitados pelos três advogados de defesa. Após sete serem escolhidos, iniciou-se o júri, que alternou momentos de tensão, por parte da defesa, às “tiradas sarcásticas e bem-humoradas” do promotor Luiz Carlos Ormeleze, autor da acusação.
Segundo o MP, Thiago, um rapaz franzino, que na época do crime tinha 18 anos, foi contratado por Tonhão, segurança do Ituano Futebol Clube e pessoa de confiança de Nicéias de Oliveira Brito (que irá a julgamento no próximo dia 15), para “dar um susto” em Dantas. “Tudo isso por causa de R$ 1 mil”, sustentou Ormeleze. Ele, então, acertou o “negócio” pessoalmente com Brito, após Tonhão marcar o encontro entre os dois, e levou Eduardo, um amigo, para participar como piloto durante a execução. O motoboy também recebera R$ 1 mil pelo serviço.
O advogado de Tonhão, Ricardo Ribeiro, tentou “desqualificar” a autoria do acusado no crime, afirmando que ele “apenas apresentou Thiago a Brito”. O MP conseguiu provar ao corpo de jurados, que o segurança do Ituano e pessoa de confiança de Brito (segurança pessoal de Oliveira Júnior) “conhecia, e bem, os dois indivíduos, e que a arma utilizada no crime havia sido entregue a Thiago por ele”.
Desentendimentos
Na tese do MP, Oliveira Júnior teria “motivos de sobra” para matar o advogado Humberto da Silva Monteiro e Dantas Filho. A declaração bateu com a afirmação de Tonhão, que disse ao júri que o serviço, no caso o “crime”, havia sido encomendado a mando do ex-vice-prefeito de Itu. “A mulher do Brito trouxe-me um envelope branco para entregar ao Thiago”, disse o segurança do clube. “Esse envelope continha o dinheiro, os mil reais para cada”, rebateu o promotor.
Um vídeo de Oliveira Júnior, ameaçando “de forma indireta” Humberto e Dantas, foi exibido aos jurados. Além disso, ainda na tese do MP, o empresário estaria com “raiva” do advogado por ele ter “perdido” um prazo jurídico para sacar a quantia de R$ 4 milhões, referentes a uma transação que envolvia o passe do jogador Juninho Paulista, pertencente a Oliveira Júnior.
Outro motivo que contribuiu para o crime foi o fato de o ex-vice-prefeito ter frequentado uma casa de prostituição em Sorocaba e esquecido de “sumir” com a fatura do cartão de crédito, que acusava gastos em tal estabelecimento. “Humberto deveria ter dado um jeito nisso, pediu Oliveira”, argumentou Ormeleze. No entanto, segundo o próprio MP, após relatos de Dantas, o advogado teria feito “chantagem emocional” com o acusado de ser o principal mandante da execução.
Após ter sido assassinado, os documentos deixados por Humberto à advogada Sheila Monteiro (sua irmã), desapareceram. Um inquérito policial corre em Itu contra o também advogado Ricardo Mendes, o qual seria “comparsa” de Oliveira Júnior nesse sumiço. Esses documentos “ajudariam a incriminar” o empresário.
by Gustavo Ferrari