domingo, 6 de dezembro de 2009

Renna tinha 2.181 fotos de crianças

Malta e Renna: fotos de menores
"Seu computador é um sex shop com crianças". Foi com essa afirmação e lágrimas nos olhos que o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pedofilia (CPI), senador Magno Malta (PR-ES), referiu-se ao ex-secretário de Administração da Prefeitura de Sorocaba (Sead), Januário Renna, após verificar o resultado da perícia do computador utilizado por ele no próprio gabinete, localizado no 1.º andar do Palácio dos Tropeiros.

No disco rígido do aparelho (hd) foram encontradas 2.181 fotos de crianças, com idades entre 3 e 15 anos, nuas ou seminuas, sendo abusadas sexualmente ou em situações constrangedoras. "A internet facilita quem gosta de pornografia infantil, né?", acrescentou Malta a Renna, que preferiu o silêncio durante a 1h10 de sabatina. "Reservo-me o direito de permanecer calado", foram suas palavras em boa parte dos questionamentos.

Abatido e demonstrando frieza, o ex-secretário iniciou a conversa com Malta dizendo que não é pedófilo. Imediatamente, o senador ergueu o tom de voz e avisou: "O senhor está na desvantagem. Quem pergunta algo aqui sou eu; você só ouve e responde. Não cresça a voz comigo", rebateu.

Após ouvir palavras do delegado da Infância e Juventude (Diju), José Augusto de Barros Pupin,- o qual foi elogiado pela atuação e condução do inquérito, ao lado do promotor Wellington dos Santos Veloso, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco) -, o presidente da CPI iniciou uma bateria de perguntas ao réu, que será julgado pelos crimes cometidos contra nove meninas nos dias 15 e 17, no Fórum de Itu. "Nunca houve isso na sua família? (referindo-se a casos de abuso sexual infantil); Tinha uma pessoa maior de idade envolvida?; O senhor fazia depósitos em conta bancária de alguém?" Só obteve uma única resposta de Renna: "Não houve pagamentos".

Em seguida, Malta novamente pressionou o ex-secretário: "O senhor teve uma fraqueza que não podia ter. Agora, aceite as consequências", referindo-se aos crimes que responde. Nesse momento, o senador pediu a ele que sentasse ao seu lado. Foi um instante de apreensão e comoção a cerca de 50 pessoas presentes à sala do Colégio Recursal no Fórum, na tarde da última sexta-feira. O presidente da CPI mostrou um calhamaço contendo as fotos de menores a Renna. O engenheiro e ex-professor universitário observou uma a uma, limitou-se a dizer que não as conhecia; porém, não demonstrou reação nem arrependimento.

"E se alguém fizesse isso a um neto seu?"

"Prefiro não responder". Essa foi a tática de Renna diante das inquietas indagações de Malta sobre as fotos reveladas pela perícia. Nelas, crianças amarradas, com esparadrapos na boca ou amordaçadas eram submetidas às sessões de sexo. "E se alguém fizesse isso a um neto seu?", questionou o senador. "Desconheço essas fotos", resmungou o ex-secretário, que ouviu do parlamentar: "Quem abusa de crianças gosta disso, gosta de ver".

Diante da inércia de Renna em falar, o presidente da CPI 'atacou' o advogado do acusado, o criminalista Mário Del Cístia Filho. "O senhor quando pegar isso aqui (o calhamaço contendo as fotos das menores) vai vomitar". Em seguida, indagou a Renna: "Todas as suas alunas falariam bem ao seu respeito?"

Para a CPI e para o Gaeco, Renna utilizou o computador pessoal de seu gabinete, na Sead, para baixar todas as 2.181 fotos reveladas. "O sistema encontrado era usado na rede da Prefeitura", ressaltou Malta. Dois funcionários da Secretaria de Comunicação do Paço (Secom) acompanharam a sabatina e ouviram a revelação.

Segundo apurou o Cruzeiro do Sul logo após a prisão do ex-secretário, uma servidora lotada na própria pasta chegou a ser transferida para outro setor do Palácio dos Tropeiros, após flagrar Renna acessando sites de pedofilia. "Isso aqui sacia a lascívia, sacia a tara. Crianças tiveram a infância violada por você, que mexeu na moral, no psicológico delas. São meninas pobres, valendo-se de uma nota de R$ 100", concluiu o senador.

Fotos de Renna fumando cigarros em biqueira, junto das meninas que estavam ao lado dele, no flagrante do motel (dia 15 de agosto), também foram mencionadas pela CPI.

by Gustavo Ferrari