Stent abre o fluxo sanguíneo
Tradicional procedimento terapêutico para abertura de um entupimento de uma artéria coronária, a angioplastia se modernizou com o uso do stent - endoprótese expansível semelhante a um fio de aço. O material é introduzido em um conduto do corpo para prevenir a constrição do fluxo no local.
A principal função do stent é impedir diminuições significativas no diâmetro dos vasos. Dessa forma, alivia o fluxo sanguíneo diminuído aos órgãos devido a uma obstrução, mantendo o aporte adequado de oxigênio no local.
Há oito anos, uma nova geração de stent chegou ao mercado. Conhecido como farmacológico, o stent sem polímero (compostos químicos de elevada massa molecular) possui medicamento na sua superfície, que são gradualmente liberados para a parede da artéria, impedindo a proliferação das células musculares lisas da camada média arterial, responsáveis pela reestenose (lesão).
A novidade é que o medicamento é inserido no momento do procedimento, diferentemente do stent convencional utilizado desde o começo da década de 90, quando um cateter e um balão inflável de polímero espremiam a camada de gordura formada na parede da artéria para aumentar a área para o fluxo de sangue.
Para o chefe da equipe de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Beneficência, e diretor clínico do Instituto de Cardiologia de São Paulo, Décio Salvadori Junior, o uso dos stents sem polímero reduziu "e muito" o fenômeno da reestenose (lesões), que, ainda hoje, é um dos principais limitantes deste método terapêutico.
"Assim, conseguimos resultados otimizados, mesmo nos grupos de pacientes com maior chance de apresentarem reobstrução das artérias, como os diabéticos. Além disso, com esta tecnologia (stents famarcológicos) poderão ser tratados um número maior de pacientes, que apresentam lesões obstrutivas em vários vasos coronarianos e que, no passado, eram encaminhados à cirurgia de pontes de safena", ressalta.
O médico acredita que, em um futuro próximo, visando a redução de fatores que ainda causem reestenose, os stents sofrerão modificações, podendo se tornar biodegradáveis. Uma delas, destaca, será provavelmente a modificação nos polímeros, utilizados no sistema de liberação das drogas aplicadas às paredes do vaso sanguíneo, ou seja, no local a ser tratado pelo stent farmacológico.
"Talvez, até mesmo a fabricação de stents sem este polímero. Atualmente, já contamos com esta tecnologia em nosso meio. Também, o desenvolvimento de novas drogas a serem utilizadas neste tipo de tratamento serão ponto chave no futuro próximo", salienta.
Salvadori Junior acrescenta que o procedimento da angioplastia somente com a utilização de balão ocupa um lugar de baixa incidência. "É raro nos dias atuais. Diria que os stents farmacológicos, embora sendo utilizados mais frequentemente (aproximadamente 20 a 25% nos casos), ainda está muito abaixo de outros países desenvolvidos. Penso que a média mundial gire ao redor de 35 a 45%", frisa.
Resultados "expressivos"
Membro fundador da Sociedade Latinoamericana de Cardiologia Intervencionista e do corpo docente de pós-graduação em cardiologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Wilson Albino Pimentel Filho diz que o uso do stent farmacológico trouxe resultados clínicos "expressivos" em subgrupos de pacientes com lesões longas em vasos finos, lesões localizadas em bifurcações nas artérias coronárias, no segmento proximal da artéria coronária descendente anterior, nas lesões localizadas no tronco principal da coronária esquerda, nos multiarteriais e, principalmente, nos pacientes diabéticos. Conforme lembra, a incidência do retorno da lesão (reestenose) tem sido menor e de maneira muito significativa.
O médico enfatiza que a principal eficácia do stent farmacológico é a eliminação do polímero, eluído pelo fármaco antiproliferativo (substância que impede a reprodução da célula lesionada). Porém, nem todos os centros de hemodinâmica dispõem do procedimento. Mas, ele acredita que o Sistema Único de Saúde (SUS) libere o uso do stent farmacológico em, no máximo, dois anos, nos serviços que atendem os pacientes previdenciários.
"No Brasil, como sendo um país peculiar, há diferenças no índice de utilização dos stents farmacológicos versus o convencional. Por exemplo: em hospitais públicos, a maioria dos procedimentos é realizada com o convencional, já que o SUS ainda não contempla o farmacológico. Ao contrário, em hospitais privados é mais freqüente o uso do stent farmacológico, na proporção que varia de 30 a 40% até 90% dos casos, como é o caso dos hospitais Sírio-Libanês, Albert Einstein, Hospital São José (da Beneficência Portuguesa) e o Hospital do Coração (HCor)", conclui Pimentel Filho.
Estudos publicados entre abril e maio de 2009 no Jornal do Colégio Americano de Cardiologia (JACC), na Revista Circulation, da Associação Americana do Coração, e no Jornal da Sociedade Europeia de Cardiologia, incluindo o Centro Alemão do Coração, em Munique, comprovaram que a utilização do stent sem polímero trouxe benefícios aos pacientes que se submeteram aos procedimentos angioplásticos.
Visita
Na terça-feira passada, a diretora da empresa alemã Translumina, de Hechingen, Almut Novak, esteve em visita ao jornal Cruzeiro do Sul. Estava acompanhada do gerente comercial e relações médicas da Lifetron Biotecnologia Ltda., de Sorocaba, Marcos Robles Poiato, e do diretor da HTS Saúde, de Belo Horizonte, Daniel Haddad Giffoni, que representa a fabricante e exportadora do material do stent sem polímero.
Almut está no Brasil difundindo, em hospitais escola e centros de hemodinâmica, "um novo conceito no tratamento da angioplastia". Segundo Poiato e Giffoni, a endoprótese expansível com fármaco (stent sem polímero) é reconhecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Durante a semana, o trio esteve no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos principais centros de referência da América Latina na área de angioplastia, na Santa Casa de Misericórdia de Santos, além de unidades médicas em Sorocaba, Campinas e Belo Horizonte, com o objetivo de definir atividades da Translumina para o Congresso Brasileiro de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, que será realizado no mês de julho, em Belo Horizonte, e para o Congresso Europeu de Hemodinâmica em Paris (França).
by Gustavo Ferrari