Fala que eu te escuto/Divulgação
Qualquer semelhança com um marreteiro do Largo da Batata, no recôncavo da elite oestiana de São Paulo, é mera coincidência. No retorno de um rápido café, ele voltou à redação e bocejou: "Se levarmos um furo hoje, damos melhor amanhã!". Era sempre assim, não havia contra-argumento.
Num determinado sábado, ele fez questão de entrar pelas portas do fundo e foi direto para sua sala. Escondia-se atrás da pilha de jornais e revistas antigas. Acredito que não a lia, mas fazia questão de ostentar alguns exemplares que ele mesmo ajudou a criar.
T.Ninja era cidadão correto, sorridente. Pelo menos demonstrava ser. Enquanto muitos murmuravam ou reclamavam de algum problema, com ele tudo parecia estar bem. Gostava de um bom bate-papo, justamente para contar histórias que vivera. Não passava de prosador de primeira linha. Parecia um paizão. "Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem", brincava, parafraseando a deixa de Ben Jor, o carioca que nasceu Jorge Duílio Lima Meneses.
Dirigir uma publicação lotada em uma cidade interiorana não é fácil. Agora, dirigir uma publicação lotada em uma cidade em que o intelecto beira a mais profunda raiz vitoriana, onde não há um patrão, menos ainda. Mas ele tirou de letra. E como! "Nego pode ser bobo, mas não rasga nota de dólar. Principalmente se a nota for alta", argumentava.
Com ele, as horas passavam em frações de segundos. O papo suave, sedutor e pouco objetivo, atraía os ouvidos. Era um momento de introspecção; uma espécie de faz de conta e tudo bem.
T.Ninja chegou tímido. Aos poucos foi adquirindo confiança e passando a dele aos demais. Não faltaram puxa-sacos nem lagartos, para não dizer buius, jaimes, capachos, papagaios de pirata ou servos dos mais medíocres. Alguns conseguiram até promoção. Outros, que também foram promovidos, se viram obrigados a retroceder. Mas continuam recebendo os mesmos salários daqueles que se fizeram merecer. "Atacar" é a saída, no melhor estilo pica-pau.
by Gustavo Ferrari