quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Relatos de uma desgraça

Divulgação
No total, foram 19 dias de uma batalha diária, desdobrando-se para dar conta dos casos de emergência, feridos infeccionados, doentescrônicos, partos, acompanhamento pós-operatório e cuidados de saúde primários na cidade de Les Cayes, uma das regiões mais atingidas pelo terremoto que devastou o Haiti no início do ano.

Na bagagem de volta apenas a certeza de ter feito tudo o que foi preciso fazer, novos planos e a necessidade de voltar para dar continuidade ao atendimento médico e hospitalar à população do Haiti.

"Só estando lá, vivenciando o caos provocado por um terremoto daquela magnitude, para entender das dificuldades encontradas, tanto pela população, quanto pelos médicos, em manter a estabilidade emocional e seguir a diante. Para eles, qualquer tipo de ajuda, apoio, ou até mesmo um simples aperto de mão, um sorriso e um desejo de boa sorte é supervalorizado. E é isso que nos motiva", conta o ortopedista Ricardo Affonso Ferreira, membro do Instituto Affonso Ferreira e presidente da ONG Expedicionários da Saúde.

Instalados no Hospital Canadense 'Brenda Strafford', em Les Cayes, cidade localizada a 150 quilômetros da capital Porto Príncipe, Ricardo comenta que os "Doctor Brasilien", que na tradução livre quer dizer "Doutores Brasileiros", como são conhecidos pela população, tornaram-se referência na região para tratamento de casosortopédicos complexos.

"São dezenas de pessoas que chegam diariamente ao hospital trazendo cartas de recomendações e encaminhamento de diversos centros de triagem e tratamento de muitas partes do país", relata o ortopedista. "A habilidade, a dedicação e, principalmente, o carinho de toda a equipe de médicos que compõe osExpedicionários da Saúde para com a população haitiana conquistou-os definitivamente".

Ferreira lembra que a maioria dos haitianos que chega para ser atendida pelos médicos dos Expedicionários da Saúde vem com a camiseta da Seleção Brasileira, ou com a estampa da nossa bandeira, ou apenas com o nome do Brasil estampado na roupa, como forma de agradecimento pelos serviços prestados. "É incrível como mesmo em um momento de muita dor, como este, eles têm a preocupação de querer nos agradar e agradecer", descreve.

No total são 28 voluntários, formado por médicos, enfermeiros, cirurgiões, anestesistas, radiologistas e instrumentadores, que continuam com os atendimentos médicos no Haiti.

A demanda, segundo Ferreira, é superior a capacidade de atendimento de cerca de 15 cirurgias diárias que, a depender da complexidade dos casos, o número de atendimentos cai. "Selecionamos os casos mais difíceis e complexos e, com o coração apertado, somos obrigados a declinar o tratamento imediato para os que possuem estado de saúde menos crítico, já sabendo que será muito difícil encontrar auxílio em outro local. Eles entendem a situação e não há mágoas ou exaltações por conta disso", relata.

Como ainda não há data prevista para finalização dos atendimentos no Haiti, o pessoal dos Expedicionários da Saúde montou outras duas equipes que querem ir à Les Cayes, enquanto outros precisam voltar para o Brasil para rever familiares e resolver questões pessoais.

Segundo Ferreira, a segunda equipe viajou rumo ao Haiti no dia 10 de fevereiro, e uma terceira equipe de médicos viaja hoje.