sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Poderia ocorrer uma desgraça no Paço"

O único órgão de imprensa a noticiar o fato envolvendo a Prefeitura e o acerto financeiro com o Banco Único S.A. foi o Cruzeiro do Sul, por meio deste mesmo repórter, com exclusividade, em 24 de maio de 2007, sob o título na página A6: 'Prefeitura paga R$ 851 mil em dívidas de servidores'. Os bastidores da notícia, nunca antes revelado, estarão expostos abaixo, para a opinião do leitores.

Ao saber da quitação da dívida pela Prefeitura junto ao Banco Único S.A., e de uma representação protocolada no Ministério Público pelo comerciante Marco Antônio Portella Defácio (responsável pela mediação do acordo do então BNL do Brasil com o Paço para o crédito consignado), o então repórter do Cruzeiro do Sul foi atrás dos fatos. Mesmo pressionado, não desistiu da publicação, que ganhou a manchete do veículo e repercutiu em toda a cidade.

Após deixar a sala em que funciona o protocolo do MP, no subsolo do Fórum de Sorocaba, e entrevistar Portella Defácio, Gustavo Ferrari caminhou na direção do Paço. Chegou ao quarto andar do Palácio dos Tropeiro, local da Secretaria de Comunicação. Conversou com a então diretora de comunicação, Nerli Peres, e com o assessor de imprensa Renato Monteiro. Explicou a situação aos dois e solicitou, com urgência, uma entrevista com o prefeito Vitor Lippi (PSDB). Era por volta das 16h45 do dia 23 de maio de 2007.

Renato Monteiro e Nerli Peres deixaram a sala do quarto andar e pediram para o repórter esperar. Por volta das 18h20, Monteiro solicitou que Gustavo Ferrari subisse ao sexto andar, local onde funciona o Gabinete do Chefe do Executivo. Foi quando o então secretário de Governo e Planejamento (extinta SGP), Maurício Biazotto Corte, o recebeu em sua sala. Em seguida, juntaram-se ao 'líder do governo' o então secretário de Comunicação (Secom), Carlos Alberto Maria, o então secretário de Recursos Humanos (Serh), Rodrigo Moreno, o então secretário de Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente (extinta Sehaum), José Dias Batista Ferrari, e, posteriormente, o então vice-prefeito, Geraldo de Moura Caiuby. Somados a eles estavam Renato Monteiro e Nerli Peres. Eram sete servidores municipais e um repórter na mesma sala.

Moreno e Biazotto argumentaram que o procedimento feito por Lippi era "legal". Diante da insistência do repórter em questionar se a Prefeitura de Sorocaba tornara-se banco, que emprestava e quitava dívidas particulares, Biazotto foi incisivo e disparou: "Poderia ocorrer uma desgraça no Paço". Intrigado com a resposta, o repórter prosseguiu: "Como assim"? Biazotto complementou: "Havia funcionário desesperado, que não sabia o que fazer para pagar a dívida. Inclusive teve gente que ameaçou a se jogar do prédio da Prefeitura". O repórter fez-se de desentendido e continuou a questionar: "Então, poderia haver suicídio aqui. É isso"? "Exatamente isso", acrescentou Biazotto. Moreno utilizou pareceres jurídicos para explicar a operação. Para Cauiby, a publicação da matéria no Cruzeiro do Sul era desnecessária.

Jornalista experiente, Renato Monteiro tentou argumentar ao repórter informações que ele já havia colhido com o denunciante do fato, o comerciante Portella Defácio. Tentou 'elucidar' o procedimento do prefeito, quando Carlos Alberto Maria taxou: "Tinha que ser feito. Não havia outra solução". Todos tentaram eximir Lippi de qualquer culpa, e solicitaram ao repórter que deixasse isso claro no texto que iria publicar, caso fosse escrito.

Na redação do Cruzeiro do Sul, o editor-chefe na ocasião dos fatos pediu ao repórter que segurasse a matéria. Porém, com argumentos e documentos em mãos, Ferrari conseguiu o consenso: a manchete de 24 de maio de 2007 estava desenhada.