A lição que fica da atitude da Prefeitura de Sorocaba ao quitar a dívida dos servidores públicos municipais é só uma: a do bom samaritano. Vitor Lippi (PSDB), ao assumir o compromisso que não fora dele, mostrou que no cofre do Paço há sobras de dinheiro capazes de honrar até contas particulares. E numa espécie de banco - que não é nem privado nem estatal - conseguiu um desconto na folha de pagamento dos funcionários de 0, 25% ao mês, algo inacreditável para um país como o Brasil.
A oposição na Câmara Municipal, que resolveu se manifestar tardiamente (a primeira denúncia do caso foi em 24 de maio de 2007), perdeu mais uma para o Executivo. Aliás, não ganha uma. É como se dividisse a bola com um gigante, que possui as mãos e as pernas maiores que a maioria. A "dupla do contra", José Antônio Caldini Crespo (DEM) e Francisco França (PT), ingressou novamente à Justiça, agora com uma ação popular. Dessa forma, tentam reverter o fracasso da Comissão Parlamentar de Inquérito. Outro arquivamento, que se soma às CPIs dos Transportes e do Serviço Funerário. Mas não seria diferente, já que o Executivo mantém sob a sua aliança 16 dos 20 parlamentares. Crespo e França estão sozinhos. E vão perder, sempre!
Como Davi, Lippi reina. Tem a Câmara nas mãos, uma parte da imprensa sorocabana e o sorriso de bom samaritano. As lambanças ocorridas durante seus seis anos e meio à frente do Executivo local caíram no esquecimento do povo. Menos no esquecimento do ÚNICO. Vamos recordar: carros Corolla para secretários; isenção de imposto para firma de secretário; escritório na China que nunca existiu; Operação Pandora e dois secretários presos; secretário preso em motel com adolescentes; secretário denunciado por descaso em hospitais psiquiátricos; secretário processado por favorecimento no pagamento de precatórios... Quantos exemplos temos para citar.
Ninguém entra na carreira pública por obrigação. Logo, não faz favor à população. Dessa forma, não pode se queixar de ser cobrado e criticado por órgãos independentes, lúcidos, compromissados com a verdade dos fatos, com a decência moral e a licitude ética. Assim, o Único expõe a bandeira do idealismo, para uma sociedade democrática que se preocupa com o crescimento social e o desenvolvimento pela transformação.
Um equívoco não pode ser corrigido com um erro. E no entendimento do Ministério Público, além do erro houve uma ação ilegal por parte do prefeito de Sorocaba ao quitar a dívida. Mas o promotor Orlando Bastos Filho optou por não processar o Chefe do Executivo porque sabe que, provavelmente, estaria aposentado quando a sentença - se é que haveria uma - sairia publicada. Só não podemos nos esquecer de que um arquivamento não quer dizer nada. O que é arquivado hoje pode ser desarquivado amanhã. Afinal de contas, papel aceita tudo.
by Gustavo Ferrari