Gustavo Ferrari/Alcides Tomazine
Mais uma cena do descaso cotidiano. Ontem à noite, estava na redação do jornal Cruzeiro do Sul quando recebi a ligação de uma família desesperada de Cerquilho. Ela tentava, no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), internar um parente que sofrera acidente de trânsito.
O caminhoneiro Alcides Tomazine havia capotado um caminhão carregado de frango congelado há 20 dias, na estrada que liga Jaguariúna a Campinas. Com uma fratura na perna esquerda, o motorista foi submetido a exames e ficou internado no Hospital Municipal de Jaguariúna. Seu quadro clínico piorou e ele precisava ser submetido a uma cirurgia, senão poderia ter a perna amputada.
A família tentou, em vão, interná-lo no Hospital Universitário da Unicamp e também no Hospital Municipal Mário Gatti, em Campinas. Não havia vagas. Com a ajuda de um deputado estadual, conhecido do proprietário da empresa em que Tomazine trabalha, achou-se uma vaga no CHS.
Por volta das 17h, uma ambulância cedida pela Prefeitura de Jaguariúna removeu o caminhoneiro a Sorocaba. Chegando no hospital, a família foi informada pelo médico responsável do setor de internação de que não havia vaga disponível no momento. Isso mesmo! Com meu celular, registrei a lamentável situação.
Um fax assinado pela médica Juliana Rosa Martins, às 14h40, confirmava os procedimentos de remoção, porque a Divisão Regional da Saúde (DRS-16) garantira a internação do cidadão de Cerquilho. Dessa forma, a família esperava que houvesse leito disponível na unidade. Diante do descaso, entrei na jogada.
No CHS, os médicos pouco ligaram para o problema. Outra parte dos familiares, que não aceitou a forma como o hospital tratou o paciente, dirigiu-se ao plantão da Delegacia de Polícia Participava (DPP) para registrar Boletim de Ocorrência. O delegado de plantão não teve dúvidas: omissão de socorro.
Ao ser informada de que a imprensa iria 'escancarar' o problema, a enfermeira responsável pelo plantão noturno do hospital tratou, imediatamente, de 'arrumar' uma vaga na internação para o caminhoneiro.
A família, então, respirou aliviado. "Ainda bem que existe a imprensa", disse a sobrinha de Tomazine, dona Marta. Deixei o hospital às 22h, após ajudar a colocar o acidentado no elevador do conjunto. Não havia funcionários para isso. Ele passaria a noite no corredor do terceiro andar, esperando vaga em um dos quartos. Mas, seria assistido pelos médicos plantonistas.
É um absurdo o que tem acontecido com os órgãos públicos desse país. Até quando cenas desse tipo se repetirão. Até quando? Por que não recebo um telefonema assim: "Família de político não consegue vaga. Vocês podem ajudar?"
by Gustavo Ferrari