quarta-feira, 30 de junho de 2010
Vereador agride repórter no Mato Grosso
O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo de Andrade, repudiou a agressão do vereador Lourivaldo Rodrigues de Moraes (DEM) contra a repórter Márcia Pache, da TV Centro-Oeste, retransmissora do SBT no Mato Grosso. De acordo com o presidente da entidade, a agressão atingiu toda a categoria.
"Ele deu um tapa na cara de uma repórter, mas esbofeteou toda a categoria. É um absurdo, uma agressão contra a instituição da imprensa e uma agressão pessoal inaceitável", classificou.
Andrade pede que a Câmara e outras autoridades estejam atentas na punição do vereador, conhecido como Kirrarinha. "É um delito, mostra um parlamentar completamente despreparado. Ele tem que ser punido na forma da lei. Por ser um parlamentar, a punição tem que ser exemplar", defendeu.
O presidente da entidade completou que a Fenaj apoia a manifestação do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (Sindjor-MT) contra o político e deve divulgar uma nota de repúdio em seu próprio site.
by Izabela Vasconcelos, de São Paulo, Portal Comunique-se
domingo, 27 de junho de 2010
Lema
Gustavo Ferrari/Lapide a última lápide aqui
Por caminhos distantes, lentos e estreitos, o aprendiz de soldado sentia o peso da farda. Carregava um ódio sombreado de suor. Era dia de reencontrar o luxo da cama, de descansar horas a mais.
Seus pés calçavam couro esloveno. Força ele tinha, mas não gastava. Improvável, percebia, romper com a solidão. Timidez ajustada à pólvora, ao cigarro, à vodka. Chorar, jamais.
Botava medo em seu trajeto. Boatos corriam; dizia que era poderoso, cheio de si e escravo da tristeza. Resolvia amarrar a dúvida com leitura. Estratagemas eram seus capítulos. Entendia, mas não compreendia aplicá-los, ali. Eli se chamava.
Certo dia, enquanto resolveu correr para se exercitar, derrubou a baioneta no chão. Cortou-se. Pediu perdão pelo desastre que o fez sangrar. Era domingo, dia de rir. Preferiu o canto da montanha. Não sabia a que altura estava.
Amanheceu sob chuva. Cuspiu o chá que bebera. Abrigo não tinha. Pensava ser mais um no meio da multidão das folhas de árvores. Ouvia os pássaros; antílopes corriam. Queria fugir. A esquerda impossibilitava sua deserção. Preferiu a direita. Cometeu erros.
Minutos antes de pedir perdão aos males causados, lembrou-se da noite anterior. Soprou a última vela. Dizia, no seu íntimo, para esquecer tudo. Cumprimento para ser aceito.
by Gustavo Ferrari
Por caminhos distantes, lentos e estreitos, o aprendiz de soldado sentia o peso da farda. Carregava um ódio sombreado de suor. Era dia de reencontrar o luxo da cama, de descansar horas a mais.
Seus pés calçavam couro esloveno. Força ele tinha, mas não gastava. Improvável, percebia, romper com a solidão. Timidez ajustada à pólvora, ao cigarro, à vodka. Chorar, jamais.
Botava medo em seu trajeto. Boatos corriam; dizia que era poderoso, cheio de si e escravo da tristeza. Resolvia amarrar a dúvida com leitura. Estratagemas eram seus capítulos. Entendia, mas não compreendia aplicá-los, ali. Eli se chamava.
Certo dia, enquanto resolveu correr para se exercitar, derrubou a baioneta no chão. Cortou-se. Pediu perdão pelo desastre que o fez sangrar. Era domingo, dia de rir. Preferiu o canto da montanha. Não sabia a que altura estava.
Amanheceu sob chuva. Cuspiu o chá que bebera. Abrigo não tinha. Pensava ser mais um no meio da multidão das folhas de árvores. Ouvia os pássaros; antílopes corriam. Queria fugir. A esquerda impossibilitava sua deserção. Preferiu a direita. Cometeu erros.
Minutos antes de pedir perdão aos males causados, lembrou-se da noite anterior. Soprou a última vela. Dizia, no seu íntimo, para esquecer tudo. Cumprimento para ser aceito.
by Gustavo Ferrari
sábado, 26 de junho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
'Big brother' zera ocorrências policiais na Festa Junina de Votorantim
Erick Pinheiro/Circuito Fechado de TV
Como um bom coronel, que não se arreda do campo de batalha, o prefeito de Votorantim, Carlos Augusto Pivetta (PT), faz questão de comandar, diariamente e in loco, a 95.ª festa junina da cidade.
Resultado: o 'big brother' que se transformou o recinto, montado na Praça de Eventos Lecy de Campos, zerou as ocorrências policiais no local este ano.
Até agora, em 10 dias, mais de 140 mil pessoas compareceram ao evento. Não houve brigas, tumultos, nem agressões, realidade bem diferente de anos anteriores, em que até mortes foram registradas na mesma época.
A segurança da festa é dividida em números: 16 câmeras profissionais de alta resolução, com zoom de 400 metros e que giram em ângulos de até 360 graus, monitoram o público, o parque e os shows.
"Conseguimos focar, por exemplo, se um participante da festa está consumindo droga ou até mesmo bebida alcoólica. Se for menor de idade, acionamos os seguranças, que imediatamente abordam o indivíduo", destacou o coordenador de tecnologia da empresa responsável pelos equipamentos, Fernando de Moraes Neto.
Cento e vinte profissionais foram contratados para o evento. Um policial militar acompanha o monitoramento na central de Circuito Fechado de Televisão (CFT). Para Pivetta, o planejamento da segurança e o novo formato da festa, com o parque funcionando independente do palco onde os shows acontecem, são os responsáveis pela "excelente" média de público.
"A melhora na readequação do espaço tem sido manifestada diariamente pelos próprios participantes, principalmente pelos pais, que aproveitaram para levar as crianças para divertirem-se nos brinquedos", ressaltou Pivetta.
"Fiz questão de vir no show do Arlindo Cruz e trazer os meus filhos também no final de semana. Realmente a segurança e a organização estão fazendo a diferença para os frequentadores", frisou o técnico em eletrônica, Fausto Oliveira.
"Parece outra festa. As barracas e os brinquedos ficaram melhor distribuídos pelo recinto", completou o engenheiro Ronaldo Canazian, que estava numa das barracas beneficentes.
No show da banda Jota Quest, sábado passado, duas pessoas desmaiaram no meio do público. Imediatamente, a Brigada de Incêndio foi acionada e, em fila indiana, retirou as mulheres segundos depois.
"Isso mostra o entrosamento entre a central de monitoramento e a agilidade dos serviços prestados à festa", disse um dos responsáveis pela segurança.
by Gustavo Ferrari
Como um bom coronel, que não se arreda do campo de batalha, o prefeito de Votorantim, Carlos Augusto Pivetta (PT), faz questão de comandar, diariamente e in loco, a 95.ª festa junina da cidade.
Resultado: o 'big brother' que se transformou o recinto, montado na Praça de Eventos Lecy de Campos, zerou as ocorrências policiais no local este ano.
Até agora, em 10 dias, mais de 140 mil pessoas compareceram ao evento. Não houve brigas, tumultos, nem agressões, realidade bem diferente de anos anteriores, em que até mortes foram registradas na mesma época.
A segurança da festa é dividida em números: 16 câmeras profissionais de alta resolução, com zoom de 400 metros e que giram em ângulos de até 360 graus, monitoram o público, o parque e os shows.
"Conseguimos focar, por exemplo, se um participante da festa está consumindo droga ou até mesmo bebida alcoólica. Se for menor de idade, acionamos os seguranças, que imediatamente abordam o indivíduo", destacou o coordenador de tecnologia da empresa responsável pelos equipamentos, Fernando de Moraes Neto.
Cento e vinte profissionais foram contratados para o evento. Um policial militar acompanha o monitoramento na central de Circuito Fechado de Televisão (CFT). Para Pivetta, o planejamento da segurança e o novo formato da festa, com o parque funcionando independente do palco onde os shows acontecem, são os responsáveis pela "excelente" média de público.
"A melhora na readequação do espaço tem sido manifestada diariamente pelos próprios participantes, principalmente pelos pais, que aproveitaram para levar as crianças para divertirem-se nos brinquedos", ressaltou Pivetta.
"Fiz questão de vir no show do Arlindo Cruz e trazer os meus filhos também no final de semana. Realmente a segurança e a organização estão fazendo a diferença para os frequentadores", frisou o técnico em eletrônica, Fausto Oliveira.
"Parece outra festa. As barracas e os brinquedos ficaram melhor distribuídos pelo recinto", completou o engenheiro Ronaldo Canazian, que estava numa das barracas beneficentes.
No show da banda Jota Quest, sábado passado, duas pessoas desmaiaram no meio do público. Imediatamente, a Brigada de Incêndio foi acionada e, em fila indiana, retirou as mulheres segundos depois.
"Isso mostra o entrosamento entre a central de monitoramento e a agilidade dos serviços prestados à festa", disse um dos responsáveis pela segurança.
by Gustavo Ferrari
terça-feira, 22 de junho de 2010
Gêmeas de 13 anos tinham caso com 'pedófilo' morto em cadeia de Itu
Erick Pinheiro/Bairro Alto, Itu
Na frente dos pais e na porta de casa, no bairro Alto, em Itu, as gêmeas que saiam com o acusado de pedofilia, o desenhista José Maria Osti, de 49 anos, morto na Cadeia de Itu após ser preso, falaram à reportagem do Cruzeiro do Sul que recebiam até R$ 100 por programa e cocaína do desenhista. Tiveram sete encontros.
Depois que os conheceram, há quatro meses, também foram procuradas por outros homens adultos. Uma das irmãs falava, com aparente calma e naturalidade, enquanto o pai parecia incomodado, dava sinais para que a família encerrasse o assunto e voltasse para dentro da residência. Casa silenciosa e escura, nenhuma luz que pudesse ser vista da rua estava acesa quando a reportagem chegou na porta.
Uma das vítimas falava mais. A outra apenas confirmava, abraçada com um jovem que a beijava na boca, sem demonstrar preocupação com a experiência das meninas. As gêmeas fizeram 14 anos no sábado, um dia após Osti ser preso.
"Estava programado, com a minha irmã, para a polícia pegar no motel", disse uma das gêmeas sobre a noite do flagrante. Imediatamente, a mãe interrompeu para negar que o flagrante estivesse armado.
Na Delegacia de Itu, um policial civil disse que o desenhista estava desacompanhado quando abordado no veículo em uma praça na marginal, tradicional ponto de prostituição.
As meninas negam que estivessem com ele no momento da prisão. Mas policiais militares relataram que o desenhista estava com as duas adolescentes no interior do veículo. Elas levaram a polícia até outras duas menores, que também faziam programa com o desenhista: uma de 13 e outra de 17 anos.
As gêmeas disseram terem ido a dois motéis, ambos na rodovia SP-75, um entre Salto e Indaiatuba e outro entre Itu e Sorocaba. R.B., 22 anos, é acusada de aliciar as menores para o desenhista. Mora no bairro Jardim Saltense, em Salto, cidade onde trabalha como balconista em uma farmácia no centro.
"Ela (R.B.) também saia com ele, o conheceu pela internet", disse a mãe das gêmeas. Segundo elas, as duas apenas filmavam as relações entre o desenhista e R.B.
Corte na cabeça
Familiares de Osti disseram que ele tinha um ferimento recente na cabeça. O caixão onde estava o seu corpo permaneceu o tempo todo aberto no Velório Barbieri. Foi sepultado às 14h do domingo, no Cemitério de Itu.
'Mole', como era conhecido, era casado havia 25 anos e não tinha filhos. "A nós foi dito que o corpo foi encontrado enforcado no cano do chuveiro. A cela não tinha iluminação. Quando foram procurá-lo tiveram de usar um farolete", alegou um dos familiares.
A família também defende que o corpo foi encontrado pelo delegado plantonista, José Moreira Barbosa Netto, após ela (família) ter ido à delegacia buscar informações de como o desenhista estava.
No domingo, no velório, uma pessoa ligada à administração do Cemitério de Itu teria dito, também aos familiares, que este caso era o terceiro, somente em 2010, de pessoa morta por enforcamento naquela cadeia. Na delegacia, a informação foi desmentida por policiais de plantão. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) sai em 30 dias.
Os familiares confirmaram que dois computadores de Osti (desktop e notebook) foram apreendidos na residência dele, localizada no Jardim Mayard, em Itu. Um celular também foi recolhido pelos policiais. "Só sabemos o que foi falado: que ele foi pego com duas menores dentro do carro. Mas não tem isso no flagrante do Boletim de Ocorrência", ressaltam os familiares.
Para a família, o desenhista conhecia as meninas de 13 anos, as quais ele teria mantido relações. "Quem deveria estar preso, na realidade, são os pais dessas menores. Não são crianças. Elas sabem muito mais do que qualquer um de nós juntos. Ele (Osti) foi um idiota, caiu numa burrice... O mal dele foi pra nós, não para aquelas criaturas. Ele conhecia essas meninas desde pequenas. A própria mãe disse que estava denunciando pelas crianças dos outros, porque das dela tanto fazia... (sic)."
by Gustavo Ferrari e Leandro Nogueira
Na frente dos pais e na porta de casa, no bairro Alto, em Itu, as gêmeas que saiam com o acusado de pedofilia, o desenhista José Maria Osti, de 49 anos, morto na Cadeia de Itu após ser preso, falaram à reportagem do Cruzeiro do Sul que recebiam até R$ 100 por programa e cocaína do desenhista. Tiveram sete encontros.
Depois que os conheceram, há quatro meses, também foram procuradas por outros homens adultos. Uma das irmãs falava, com aparente calma e naturalidade, enquanto o pai parecia incomodado, dava sinais para que a família encerrasse o assunto e voltasse para dentro da residência. Casa silenciosa e escura, nenhuma luz que pudesse ser vista da rua estava acesa quando a reportagem chegou na porta.
Uma das vítimas falava mais. A outra apenas confirmava, abraçada com um jovem que a beijava na boca, sem demonstrar preocupação com a experiência das meninas. As gêmeas fizeram 14 anos no sábado, um dia após Osti ser preso.
"Estava programado, com a minha irmã, para a polícia pegar no motel", disse uma das gêmeas sobre a noite do flagrante. Imediatamente, a mãe interrompeu para negar que o flagrante estivesse armado.
Na Delegacia de Itu, um policial civil disse que o desenhista estava desacompanhado quando abordado no veículo em uma praça na marginal, tradicional ponto de prostituição.
As meninas negam que estivessem com ele no momento da prisão. Mas policiais militares relataram que o desenhista estava com as duas adolescentes no interior do veículo. Elas levaram a polícia até outras duas menores, que também faziam programa com o desenhista: uma de 13 e outra de 17 anos.
As gêmeas disseram terem ido a dois motéis, ambos na rodovia SP-75, um entre Salto e Indaiatuba e outro entre Itu e Sorocaba. R.B., 22 anos, é acusada de aliciar as menores para o desenhista. Mora no bairro Jardim Saltense, em Salto, cidade onde trabalha como balconista em uma farmácia no centro.
"Ela (R.B.) também saia com ele, o conheceu pela internet", disse a mãe das gêmeas. Segundo elas, as duas apenas filmavam as relações entre o desenhista e R.B.
Corte na cabeça
Familiares de Osti disseram que ele tinha um ferimento recente na cabeça. O caixão onde estava o seu corpo permaneceu o tempo todo aberto no Velório Barbieri. Foi sepultado às 14h do domingo, no Cemitério de Itu.
'Mole', como era conhecido, era casado havia 25 anos e não tinha filhos. "A nós foi dito que o corpo foi encontrado enforcado no cano do chuveiro. A cela não tinha iluminação. Quando foram procurá-lo tiveram de usar um farolete", alegou um dos familiares.
A família também defende que o corpo foi encontrado pelo delegado plantonista, José Moreira Barbosa Netto, após ela (família) ter ido à delegacia buscar informações de como o desenhista estava.
No domingo, no velório, uma pessoa ligada à administração do Cemitério de Itu teria dito, também aos familiares, que este caso era o terceiro, somente em 2010, de pessoa morta por enforcamento naquela cadeia. Na delegacia, a informação foi desmentida por policiais de plantão. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) sai em 30 dias.
Os familiares confirmaram que dois computadores de Osti (desktop e notebook) foram apreendidos na residência dele, localizada no Jardim Mayard, em Itu. Um celular também foi recolhido pelos policiais. "Só sabemos o que foi falado: que ele foi pego com duas menores dentro do carro. Mas não tem isso no flagrante do Boletim de Ocorrência", ressaltam os familiares.
Para a família, o desenhista conhecia as meninas de 13 anos, as quais ele teria mantido relações. "Quem deveria estar preso, na realidade, são os pais dessas menores. Não são crianças. Elas sabem muito mais do que qualquer um de nós juntos. Ele (Osti) foi um idiota, caiu numa burrice... O mal dele foi pra nós, não para aquelas criaturas. Ele conhecia essas meninas desde pequenas. A própria mãe disse que estava denunciando pelas crianças dos outros, porque das dela tanto fazia... (sic)."
by Gustavo Ferrari e Leandro Nogueira
terça-feira, 15 de junho de 2010
Pesquisas com plantas são esperança no tratamento de câncer de pulmão
Cissus sulciccaulis (uva brava)
Pesquisadores dos departamentos de Biotecnologia e Farmácia da Universidade de Sorocaba (Uniso) estão dando um grande passo à descoberta de um fármaco capaz de ser utilizado no tratamento de algumas doenças, entre elas o câncer de pulmão, o Mal de Parkinson e infecções gástricas.
Eles isolaram seis substâncias encontradas nas plantas Cissus sulciccaulis (uva brava) e Solanum cernuum (braço preguiça), que obtiveram, segundos os estudos, em fase avançada, um bom resultado em testes feitos, com animais, em laboratório.
As pesquisas são financiadas pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci), com profissionais da Uniso, da Universidade Bandeirante de São Paulo, da Unicamp, da Universidade Nova de Lisboa (Portugal), e das universidades de Salamanca e Sevilha (Espanha).
No Brasil, a coordenação é da professora Luciane Cruz Lopes, da Uniso.
Em publicação na Revista de Estudos Universitários, Volume 35, da Uniso, os pesquisadores revelaram que testes com a Cissus sulciccaulis, em algumas atividades farmacológicas, indicaram a presença de atividade antioxidante, antimicrobiana, inibidora da enzima acetilcolinesterase (B), e, especialmente, antiinflamatória.
O presente estudo, segundo a publicação, foi desenvolvido para investigar os possíveis efeitos do extrato etanólico de Cissus sulcicaulis, usando modelos comportamentais.
Segundo Luciane, as plantas estudadas são cultivadas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em Piracicaba, com autorização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão público vinculado ao Ministério da Agricultura.
"As plantas são secas e passam por processo de ensaios. Em Portugal é feita a identificação das moléculas. Há a tritura da planta, que pela etapa do solvente, quando se extrai um extrato verde, com os compostos das substâncias farmacológicas", ressaltou a coordenadora da pesquisa.
Recentemente, os alunos da Uniso Augusto Chad, Bianca Roman, Maria Carolina Oliveira e Silva e Marise Kakimori estiveram em Sevilla, para encontro com o Grupo de Cooperação Internacional Brasil-Espanha-Portugal (Cibep), mostrando as fases avançadas dos estudos. Augusto embarca para Lisboa em setembro.
Patente
A pesquisadora Luciane Lopes enfatizou que, caso os estudos comprovem a eficácia das substâncias no tratamento das doenças, a próxima etapa será patenteá-los, e aguardar o interesse de algum laboratório.
Também na Revista de Estudos Universitários, Volume 35, da Uniso, a pesquisadora Marise Kakimori publicou seu estudo com a Solanum cernuum, que é utilizada popularmente no tratamento de úlceras, males do fígado, afecção da pele, como anti-hemorrágica, sudorífera, depurativa nas blenorragias, antineoplásica e diurético.
Seu objetivo foi identificar a atividade antinociceptiva e anti-inflamatória da espécie S da planta.
No mês passado, o grupo de pesquisadores, junto com os colegas da Espanha e Portugal, se encontrou na Uniso.
A cooperação entre os países existe desde 2006. Luciane coordena, desde 2005, a Comissão Técnica e Multidisciplinar de Atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Comare), ligada ao Ministério da Saúde.
by Gustavo Ferrari
Pesquisadores dos departamentos de Biotecnologia e Farmácia da Universidade de Sorocaba (Uniso) estão dando um grande passo à descoberta de um fármaco capaz de ser utilizado no tratamento de algumas doenças, entre elas o câncer de pulmão, o Mal de Parkinson e infecções gástricas.
Eles isolaram seis substâncias encontradas nas plantas Cissus sulciccaulis (uva brava) e Solanum cernuum (braço preguiça), que obtiveram, segundos os estudos, em fase avançada, um bom resultado em testes feitos, com animais, em laboratório.
As pesquisas são financiadas pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci), com profissionais da Uniso, da Universidade Bandeirante de São Paulo, da Unicamp, da Universidade Nova de Lisboa (Portugal), e das universidades de Salamanca e Sevilha (Espanha).
No Brasil, a coordenação é da professora Luciane Cruz Lopes, da Uniso.
Em publicação na Revista de Estudos Universitários, Volume 35, da Uniso, os pesquisadores revelaram que testes com a Cissus sulciccaulis, em algumas atividades farmacológicas, indicaram a presença de atividade antioxidante, antimicrobiana, inibidora da enzima acetilcolinesterase (B), e, especialmente, antiinflamatória.
O presente estudo, segundo a publicação, foi desenvolvido para investigar os possíveis efeitos do extrato etanólico de Cissus sulcicaulis, usando modelos comportamentais.
Segundo Luciane, as plantas estudadas são cultivadas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em Piracicaba, com autorização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão público vinculado ao Ministério da Agricultura.
"As plantas são secas e passam por processo de ensaios. Em Portugal é feita a identificação das moléculas. Há a tritura da planta, que pela etapa do solvente, quando se extrai um extrato verde, com os compostos das substâncias farmacológicas", ressaltou a coordenadora da pesquisa.
Recentemente, os alunos da Uniso Augusto Chad, Bianca Roman, Maria Carolina Oliveira e Silva e Marise Kakimori estiveram em Sevilla, para encontro com o Grupo de Cooperação Internacional Brasil-Espanha-Portugal (Cibep), mostrando as fases avançadas dos estudos. Augusto embarca para Lisboa em setembro.
Patente
A pesquisadora Luciane Lopes enfatizou que, caso os estudos comprovem a eficácia das substâncias no tratamento das doenças, a próxima etapa será patenteá-los, e aguardar o interesse de algum laboratório.
Também na Revista de Estudos Universitários, Volume 35, da Uniso, a pesquisadora Marise Kakimori publicou seu estudo com a Solanum cernuum, que é utilizada popularmente no tratamento de úlceras, males do fígado, afecção da pele, como anti-hemorrágica, sudorífera, depurativa nas blenorragias, antineoplásica e diurético.
Seu objetivo foi identificar a atividade antinociceptiva e anti-inflamatória da espécie S da planta.
No mês passado, o grupo de pesquisadores, junto com os colegas da Espanha e Portugal, se encontrou na Uniso.
A cooperação entre os países existe desde 2006. Luciane coordena, desde 2005, a Comissão Técnica e Multidisciplinar de Atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Comare), ligada ao Ministério da Saúde.
by Gustavo Ferrari
O mago das imagens premiadas
Erick Pinheiro/Entrevista no Museu da Imagem e do Som
Da janela de seu apartamento, localizado em Manhattan, Nova York, Estados Unidos, Steve McCurry presenciou, a três quarteirões de distância, o símbolo do capitalismo norte-americano ruir diante dos próprios olhos.
Acostumado a cobrir guerras e catástrofes naturais, o 'papa' do fotojornalismo da Revista National Geographic não pensou duas vezes: pegou a sua câmera e registrou o que foi sobrando das torres gêmeas.
Era 11 de setembro de 2001. Era o fim do World Trade Center. "Acordei com um telefonema. Confesso que não acreditei no que via. Uma sensação horrível."
Membro da elitista Agência Magnum desde 1986, fundada por ninguém menos que o francês Henri Cartier-Bresson, morto em 2004, McCurry estudou cinematografia na Universidade do Estado da Pensilvânia, em 1968.
No entanto, acabou se formando em artes cênicas e graduou-se em 1974. Se interessou pela fotografia quando começou a produzir imagens para um jornal de sua universidade, o The Daily Collegian.
O americano começou a sua carreira de fotojornalista cobrindo a invasão soviética ao Afeganistão. Para isso, utilizou vestimentas típicas para se disfarçar e esconder seu equipamento.
Suas imagens estavam entre as primeiras do conflito e por isso foram largamente publicadas. McCurry continuou a fotografar conflitos internacionais no Afeganistão (onde esteve mais de 30 vezes) e em outros países como Camboja, Filipinas, Líbano, além do Irã-Iraque e também no Golfo Pérsico.
O drama humano - principal marca de seus registros em campo - chama a atenção pelo contraste de cores, ao mesmo tempo em que é carregado de sofrimento, tristeza e emoção.
Capturar a essência e a condição do homem é o que McCurry busca nas imagens. Ele observa o fotografado e espera pelo momento em que "a alma da pessoa é revelada", seja pela expressão, pelo olhar ou pelas ações.
Além de regiões em conflito, o 'papa' do fotojornalismo percorreu e explorou países exóticos, que lhe renderam belas fotos, como Índia (onde esteve 90 vezes), Nepal, Vietnã, Iêmen, Camboja, Paquistão (onde morou por dois anos) e Filipinas.
Mas foi com a célebre imagem da menina afegã de olhos verdes Sharbat Gula, então com 13 anos de idade, em 1984, fotografada num acampamento de refugiados em Nasir Bagh, no Paquistão, que McCurry ganhou notoriedade.
A foto, capa da National Geographic, publicada em junho de 1985, rendeu-lhe fama, respeito, e mais trabalho.
Aos 60 anos de idade e com um currículo invejável, que inclui prêmios como a Medalha de Ouro Robert Capa, o Magazine Photographer of the Year, o Oliver Rebbot e o World Press Photo, McCurry esbanja carisma e paixão pelo que faz.
Humildade e técnica são duas de suas qualidades. Ele é o único fotógrafo a utilizar a última geração de filmes Kodachrome, produzido apenas no formato fotográfico 35mm, em ISO 64, cuja produção encerra-se em novembro deste ano.
Devido à complexidade do processo de revelação, apenas um laboratório no mundo oferece esse tipo de serviço, o Dwayne’s Photo, em Kansas, EUA.
Minutos antes de palestrar para um respeitável público, formado em sua maioria de fotojornalistas, no projeto Grandes Mestres da Fotografia, que lotou o auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS), na nobre avenida Europa, coração dos Jardins, São Paulo, em dia 20 de maio, - sua quarta estada em território brasileiro -, McCurry concedeu entrevista ao Cruzeiro do Sul.
Assim como na palestra, falou sobre a Índia, seus desafios, sua carreira:
O início
"Comecei a minha carreira fotográfica na Filadélfia, Estados Unidos, trabalhando em um empresa na repartição de cartas. Tinha 19 anos e percebi que havia um mundo a ser descoberto. Me inspirei a viver na Europa durante um ano e depois quis continuar viajando. Decidi voltar à escola e fazer fotografia."
National Geographic
"Fui a primeira vez para a Índia, em 1978, e trabalhei mais de 90 vezes lá. A viagem era para durar seis semanas, mas eu me entusiasmei e permaneci por dois anos. De lá fui para o Nepal e Paquistão. Quando retornei aos EUA fui para a National Geographic. Eles me deram um compromisso, pois sou uma pessoa muito insistente. No fundo, penso que ficaram com pena de mim. O meu compromisso com a National era de três meses, mas eu levei sete meses para concluir o trabalho. Foi muito difícil. O pior foi que a história nem chegou a ser publicada. Mesmo assim, o pessoal da revista fez questão de me pagar. Fiquei deprimido. O pagamento foi feito via correio. Quando abri o envelope, com o cheque, vi que havia algo errado. O acerto pelo trabalho era de US$ 3 mil, mas me enviaram US$ 30 mil, mesmo com a história não sendo publicada. Me disseram: 'Você não quer ir para Bombai (atualmente Mombai), na Índia?'"
Histórias da Índia
"A foto que mais me marcou foi de uma mãe junto de sua filha pedindo esmola na janela do táxi que estava, em Bombai (Mombai). Essa foi a que liderou minha carreira. Outras foram de templos religiosos. Cheguei a ficar mais de duas horas, estático, para fotografar fiéis orando em uma árvore. Em outra situação, permaneci por quatro dias em uma vila inundada, localizada em uma área suja e nojenta, em um vilarejo. Outra foto marcante foi a de um alfaiate, que voltou para 'salvar' a sua máquina na inundação. Ele me viu e sorriu para a câmera. Essa foto foi capa da National Geographic, em dezembro de 1984. Não me cansei de fotografar o Taj Mahal. Sempre busquei registrá-lo sob um ângulo novo, diferente. Queria mostrar como era a vida do indiano em volta do templo. Uma história que me recordo bem foi a viagem de trem atravessando a Índia, Bangladesh e o Paquistão. Queria mostrar como o trem passava rente ao Taj. Consegui enquadrar o trem e o templo no mesmo quadro. Em outra situação, no mesmo trem, consegui pegar uma foto em que a tripulação serve café da manhã pela janela de um vagão ao outro. Fiquei quatro meses nesse trem. Gosto de fotografar as pessoas dormindo em lugares variados. Fiz várias fotos assim em Calcutá. Em março deste ano fotografei um festival na Índia. Foi a maior reunião humana na história do mundo. Reuniu 20 milhões de pessoas, que chegaram durante meses para o evento. O engraçado é fotografar e não compreender os rituais, principalmente porque lá se fuma muito haxixe."
Steve McCurry/Sharbat Gula 1984
Marca do olhar
"Sharbat Gula era uma menina em que a dor estava visível em seus olhos. Ela estava meio acanhada, tímida, assustada. Resolvi ficar uns cinco minutos fotografando outra refugiada, no acampamento. Fiz isso com outras pessoas. Até que consegui sua confiança. Foram horas tirando fotos naquele local. Consegui pegar a expressão que queria do rosto da jovem. Uma foto inesquecível, que fala por si. Depois que a matéria saiu na National Geographic, recebi milhares de cartas de pessoas que queriam adotá-la. Outras pessoas queriam casar com a menina. Em 2001, voltei ao Afeganistão. Queria encontrá-la novamente. Uma mulher chegou a me convencer de que ela era a pessoa da capa da revista. Depois de muito procurar, apareceu um rapaz que dizia conhecer o irmão dela. Dezessete anos depois, em 2002, finalmente encontrei Sharbat. Estava casada e com filhos. Fiz uma nova foto, que também rendeu capa da National. Uma escola foi construída às pessoas refugiadas, em homenagem a foto. Tenho uma satisfação muito grande por isso."
Cores
"Não sou um fotógrafo de cores. O que me interessa é registrar a vida, o drama. Se tirar as cores das minhas fotos (deixá-las preto e branco), mesmo assim elas continuarão vivas, fortes. Não gosto de fotografar em ambientes na contraluz. Gosto de fotografar o ambiente em que as cores revelam uma situação. Muitos fotógrafos trabalham em preto e branco, porque a cor, às vezes, distrai a emoção. Mas é possível fotografar e ter prazer. O fotógrafo não deve explicar a foto. Ela (a foto) deve falar por si. Se você quiser mais explicação, então deve ser escritor, não fotógrafo. Sempre sinto que posso contar a história de uma forma visível. Ninguém que chegou no nível da National Geographic precisa escrever legenda para uma foto."
Desafios
"Todo dia para mim é um novo desafio. Procuro criar algo novo, trabalhar em um nova situação. Uma história tem que vir de dentro; tem que ter um significado para você. Isso é um desafio. A rota da cocaína, na Bolívia, Colômbia, é uma história impossível de ser fotografada. Um amigo tentou fazê-la, mas não conseguiu. Os próprios traficantes não acreditaram que ele era um repórter da National Geographic. Uma foto curiosa que fiz foi de um homem se esquentando do frio com fogo, dentro de um árvore. Já em Mandalay, Mianmar, fiz foto de homens equilibrando uma pedra. Nessa ocasião, chegaram a me oferecer uma cobra como alimento. Mandaram eu ao Paquistão. Lá, cheguei a ser preso duas vezes. Na primeira vez, fiquei cinco dias no cárcere. Colocaram correntes nas minhas pernas. Era proibido fotografar no local em que estava."
Tristes lembranças
"Certa vez fiquei emocionado com uma criança que não conseguia caminhar de forma ereta. Ela me viu e perguntou se eu não queria tomar café na casa dela. Isso serviu de inspiração. Tratava-se de uma pessoa que nunca teve nada na vida, a não ser disposição. Eu acho que cobrir situações de miséria, em lugares onde isso aconteça, como catástrofes, é algo que o fotojornalista deve almejar, sempre. Não posso sofrer com o que vejo. Eu vejo tragédias, dramas, dores envolvendo pessoas, animais... Vejo pessoas tentando entender o que acontece, sendo que nem elas sabem o por que passam por certas situações, situações extremas. No Peru, fiz uma foto de crianças torturando um garotinho. Ele tinha até uma arma de brinquedo. Um dos trabalhos mais importantes que fiz, porém triste, foi a explosão de mais de 600 postos de óleos na Guerra do Golfo, em 1991."
Steve McCurry/Shaolin Monastery 2004
Lição
"Pensei como seria diferente minha vida se tivesse vindo essas vezes ao Brasil (referindo a quantidade de vezes em que esteve na Índia). Conheci o Rio de Janeiro e fiz uma lista de histórias que pretendo registrar no país. É um lugar incrível. Tem muitas paisagens, uma geografia excelente, assim como a cultura. Um lugar único, bem diferente dos outros do mundo. Minha família entende o que faço. Nunca questiona onde e quando vou, nem quando volto. Cresci numa família muito religiosa, mas o budismo me ensinou a ter compaixão, a respeitar as pessoas, a ter paz. Essa é a grande lição que aprendi."
Galerias de fotos do entrevistado podem ser conferidas em www.stevemccurry.com.
by Gustavo Ferrari
Da janela de seu apartamento, localizado em Manhattan, Nova York, Estados Unidos, Steve McCurry presenciou, a três quarteirões de distância, o símbolo do capitalismo norte-americano ruir diante dos próprios olhos.
Acostumado a cobrir guerras e catástrofes naturais, o 'papa' do fotojornalismo da Revista National Geographic não pensou duas vezes: pegou a sua câmera e registrou o que foi sobrando das torres gêmeas.
Era 11 de setembro de 2001. Era o fim do World Trade Center. "Acordei com um telefonema. Confesso que não acreditei no que via. Uma sensação horrível."
Membro da elitista Agência Magnum desde 1986, fundada por ninguém menos que o francês Henri Cartier-Bresson, morto em 2004, McCurry estudou cinematografia na Universidade do Estado da Pensilvânia, em 1968.
No entanto, acabou se formando em artes cênicas e graduou-se em 1974. Se interessou pela fotografia quando começou a produzir imagens para um jornal de sua universidade, o The Daily Collegian.
O americano começou a sua carreira de fotojornalista cobrindo a invasão soviética ao Afeganistão. Para isso, utilizou vestimentas típicas para se disfarçar e esconder seu equipamento.
Suas imagens estavam entre as primeiras do conflito e por isso foram largamente publicadas. McCurry continuou a fotografar conflitos internacionais no Afeganistão (onde esteve mais de 30 vezes) e em outros países como Camboja, Filipinas, Líbano, além do Irã-Iraque e também no Golfo Pérsico.
O drama humano - principal marca de seus registros em campo - chama a atenção pelo contraste de cores, ao mesmo tempo em que é carregado de sofrimento, tristeza e emoção.
Capturar a essência e a condição do homem é o que McCurry busca nas imagens. Ele observa o fotografado e espera pelo momento em que "a alma da pessoa é revelada", seja pela expressão, pelo olhar ou pelas ações.
Além de regiões em conflito, o 'papa' do fotojornalismo percorreu e explorou países exóticos, que lhe renderam belas fotos, como Índia (onde esteve 90 vezes), Nepal, Vietnã, Iêmen, Camboja, Paquistão (onde morou por dois anos) e Filipinas.
Mas foi com a célebre imagem da menina afegã de olhos verdes Sharbat Gula, então com 13 anos de idade, em 1984, fotografada num acampamento de refugiados em Nasir Bagh, no Paquistão, que McCurry ganhou notoriedade.
A foto, capa da National Geographic, publicada em junho de 1985, rendeu-lhe fama, respeito, e mais trabalho.
Aos 60 anos de idade e com um currículo invejável, que inclui prêmios como a Medalha de Ouro Robert Capa, o Magazine Photographer of the Year, o Oliver Rebbot e o World Press Photo, McCurry esbanja carisma e paixão pelo que faz.
Humildade e técnica são duas de suas qualidades. Ele é o único fotógrafo a utilizar a última geração de filmes Kodachrome, produzido apenas no formato fotográfico 35mm, em ISO 64, cuja produção encerra-se em novembro deste ano.
Devido à complexidade do processo de revelação, apenas um laboratório no mundo oferece esse tipo de serviço, o Dwayne’s Photo, em Kansas, EUA.
Minutos antes de palestrar para um respeitável público, formado em sua maioria de fotojornalistas, no projeto Grandes Mestres da Fotografia, que lotou o auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS), na nobre avenida Europa, coração dos Jardins, São Paulo, em dia 20 de maio, - sua quarta estada em território brasileiro -, McCurry concedeu entrevista ao Cruzeiro do Sul.
Assim como na palestra, falou sobre a Índia, seus desafios, sua carreira:
O início
"Comecei a minha carreira fotográfica na Filadélfia, Estados Unidos, trabalhando em um empresa na repartição de cartas. Tinha 19 anos e percebi que havia um mundo a ser descoberto. Me inspirei a viver na Europa durante um ano e depois quis continuar viajando. Decidi voltar à escola e fazer fotografia."
National Geographic
"Fui a primeira vez para a Índia, em 1978, e trabalhei mais de 90 vezes lá. A viagem era para durar seis semanas, mas eu me entusiasmei e permaneci por dois anos. De lá fui para o Nepal e Paquistão. Quando retornei aos EUA fui para a National Geographic. Eles me deram um compromisso, pois sou uma pessoa muito insistente. No fundo, penso que ficaram com pena de mim. O meu compromisso com a National era de três meses, mas eu levei sete meses para concluir o trabalho. Foi muito difícil. O pior foi que a história nem chegou a ser publicada. Mesmo assim, o pessoal da revista fez questão de me pagar. Fiquei deprimido. O pagamento foi feito via correio. Quando abri o envelope, com o cheque, vi que havia algo errado. O acerto pelo trabalho era de US$ 3 mil, mas me enviaram US$ 30 mil, mesmo com a história não sendo publicada. Me disseram: 'Você não quer ir para Bombai (atualmente Mombai), na Índia?'"
Histórias da Índia
"A foto que mais me marcou foi de uma mãe junto de sua filha pedindo esmola na janela do táxi que estava, em Bombai (Mombai). Essa foi a que liderou minha carreira. Outras foram de templos religiosos. Cheguei a ficar mais de duas horas, estático, para fotografar fiéis orando em uma árvore. Em outra situação, permaneci por quatro dias em uma vila inundada, localizada em uma área suja e nojenta, em um vilarejo. Outra foto marcante foi a de um alfaiate, que voltou para 'salvar' a sua máquina na inundação. Ele me viu e sorriu para a câmera. Essa foto foi capa da National Geographic, em dezembro de 1984. Não me cansei de fotografar o Taj Mahal. Sempre busquei registrá-lo sob um ângulo novo, diferente. Queria mostrar como era a vida do indiano em volta do templo. Uma história que me recordo bem foi a viagem de trem atravessando a Índia, Bangladesh e o Paquistão. Queria mostrar como o trem passava rente ao Taj. Consegui enquadrar o trem e o templo no mesmo quadro. Em outra situação, no mesmo trem, consegui pegar uma foto em que a tripulação serve café da manhã pela janela de um vagão ao outro. Fiquei quatro meses nesse trem. Gosto de fotografar as pessoas dormindo em lugares variados. Fiz várias fotos assim em Calcutá. Em março deste ano fotografei um festival na Índia. Foi a maior reunião humana na história do mundo. Reuniu 20 milhões de pessoas, que chegaram durante meses para o evento. O engraçado é fotografar e não compreender os rituais, principalmente porque lá se fuma muito haxixe."
Steve McCurry/Sharbat Gula 1984
Marca do olhar
"Sharbat Gula era uma menina em que a dor estava visível em seus olhos. Ela estava meio acanhada, tímida, assustada. Resolvi ficar uns cinco minutos fotografando outra refugiada, no acampamento. Fiz isso com outras pessoas. Até que consegui sua confiança. Foram horas tirando fotos naquele local. Consegui pegar a expressão que queria do rosto da jovem. Uma foto inesquecível, que fala por si. Depois que a matéria saiu na National Geographic, recebi milhares de cartas de pessoas que queriam adotá-la. Outras pessoas queriam casar com a menina. Em 2001, voltei ao Afeganistão. Queria encontrá-la novamente. Uma mulher chegou a me convencer de que ela era a pessoa da capa da revista. Depois de muito procurar, apareceu um rapaz que dizia conhecer o irmão dela. Dezessete anos depois, em 2002, finalmente encontrei Sharbat. Estava casada e com filhos. Fiz uma nova foto, que também rendeu capa da National. Uma escola foi construída às pessoas refugiadas, em homenagem a foto. Tenho uma satisfação muito grande por isso."
Cores
"Não sou um fotógrafo de cores. O que me interessa é registrar a vida, o drama. Se tirar as cores das minhas fotos (deixá-las preto e branco), mesmo assim elas continuarão vivas, fortes. Não gosto de fotografar em ambientes na contraluz. Gosto de fotografar o ambiente em que as cores revelam uma situação. Muitos fotógrafos trabalham em preto e branco, porque a cor, às vezes, distrai a emoção. Mas é possível fotografar e ter prazer. O fotógrafo não deve explicar a foto. Ela (a foto) deve falar por si. Se você quiser mais explicação, então deve ser escritor, não fotógrafo. Sempre sinto que posso contar a história de uma forma visível. Ninguém que chegou no nível da National Geographic precisa escrever legenda para uma foto."
Desafios
"Todo dia para mim é um novo desafio. Procuro criar algo novo, trabalhar em um nova situação. Uma história tem que vir de dentro; tem que ter um significado para você. Isso é um desafio. A rota da cocaína, na Bolívia, Colômbia, é uma história impossível de ser fotografada. Um amigo tentou fazê-la, mas não conseguiu. Os próprios traficantes não acreditaram que ele era um repórter da National Geographic. Uma foto curiosa que fiz foi de um homem se esquentando do frio com fogo, dentro de um árvore. Já em Mandalay, Mianmar, fiz foto de homens equilibrando uma pedra. Nessa ocasião, chegaram a me oferecer uma cobra como alimento. Mandaram eu ao Paquistão. Lá, cheguei a ser preso duas vezes. Na primeira vez, fiquei cinco dias no cárcere. Colocaram correntes nas minhas pernas. Era proibido fotografar no local em que estava."
Tristes lembranças
"Certa vez fiquei emocionado com uma criança que não conseguia caminhar de forma ereta. Ela me viu e perguntou se eu não queria tomar café na casa dela. Isso serviu de inspiração. Tratava-se de uma pessoa que nunca teve nada na vida, a não ser disposição. Eu acho que cobrir situações de miséria, em lugares onde isso aconteça, como catástrofes, é algo que o fotojornalista deve almejar, sempre. Não posso sofrer com o que vejo. Eu vejo tragédias, dramas, dores envolvendo pessoas, animais... Vejo pessoas tentando entender o que acontece, sendo que nem elas sabem o por que passam por certas situações, situações extremas. No Peru, fiz uma foto de crianças torturando um garotinho. Ele tinha até uma arma de brinquedo. Um dos trabalhos mais importantes que fiz, porém triste, foi a explosão de mais de 600 postos de óleos na Guerra do Golfo, em 1991."
Steve McCurry/Shaolin Monastery 2004
Lição
"Pensei como seria diferente minha vida se tivesse vindo essas vezes ao Brasil (referindo a quantidade de vezes em que esteve na Índia). Conheci o Rio de Janeiro e fiz uma lista de histórias que pretendo registrar no país. É um lugar incrível. Tem muitas paisagens, uma geografia excelente, assim como a cultura. Um lugar único, bem diferente dos outros do mundo. Minha família entende o que faço. Nunca questiona onde e quando vou, nem quando volto. Cresci numa família muito religiosa, mas o budismo me ensinou a ter compaixão, a respeitar as pessoas, a ter paz. Essa é a grande lição que aprendi."
Galerias de fotos do entrevistado podem ser conferidas em www.stevemccurry.com.
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