Gustavo Ferrari/Lapide a última lápide aqui
Por caminhos distantes, lentos e estreitos, o aprendiz de soldado sentia o peso da farda. Carregava um ódio sombreado de suor. Era dia de reencontrar o luxo da cama, de descansar horas a mais.
Seus pés calçavam couro esloveno. Força ele tinha, mas não gastava. Improvável, percebia, romper com a solidão. Timidez ajustada à pólvora, ao cigarro, à vodka. Chorar, jamais.
Botava medo em seu trajeto. Boatos corriam; dizia que era poderoso, cheio de si e escravo da tristeza. Resolvia amarrar a dúvida com leitura. Estratagemas eram seus capítulos. Entendia, mas não compreendia aplicá-los, ali. Eli se chamava.
Certo dia, enquanto resolveu correr para se exercitar, derrubou a baioneta no chão. Cortou-se. Pediu perdão pelo desastre que o fez sangrar. Era domingo, dia de rir. Preferiu o canto da montanha. Não sabia a que altura estava.
Amanheceu sob chuva. Cuspiu o chá que bebera. Abrigo não tinha. Pensava ser mais um no meio da multidão das folhas de árvores. Ouvia os pássaros; antílopes corriam. Queria fugir. A esquerda impossibilitava sua deserção. Preferiu a direita. Cometeu erros.
Minutos antes de pedir perdão aos males causados, lembrou-se da noite anterior. Soprou a última vela. Dizia, no seu íntimo, para esquecer tudo. Cumprimento para ser aceito.
by Gustavo Ferrari