Erick Pinheiro/Bairro Alto, Itu
Na frente dos pais e na porta de casa, no bairro Alto, em Itu, as gêmeas que saiam com o acusado de pedofilia, o desenhista José Maria Osti, de 49 anos, morto na Cadeia de Itu após ser preso, falaram à reportagem do Cruzeiro do Sul que recebiam até R$ 100 por programa e cocaína do desenhista. Tiveram sete encontros.
Depois que os conheceram, há quatro meses, também foram procuradas por outros homens adultos. Uma das irmãs falava, com aparente calma e naturalidade, enquanto o pai parecia incomodado, dava sinais para que a família encerrasse o assunto e voltasse para dentro da residência. Casa silenciosa e escura, nenhuma luz que pudesse ser vista da rua estava acesa quando a reportagem chegou na porta.
Uma das vítimas falava mais. A outra apenas confirmava, abraçada com um jovem que a beijava na boca, sem demonstrar preocupação com a experiência das meninas. As gêmeas fizeram 14 anos no sábado, um dia após Osti ser preso.
"Estava programado, com a minha irmã, para a polícia pegar no motel", disse uma das gêmeas sobre a noite do flagrante. Imediatamente, a mãe interrompeu para negar que o flagrante estivesse armado.
Na Delegacia de Itu, um policial civil disse que o desenhista estava desacompanhado quando abordado no veículo em uma praça na marginal, tradicional ponto de prostituição.
As meninas negam que estivessem com ele no momento da prisão. Mas policiais militares relataram que o desenhista estava com as duas adolescentes no interior do veículo. Elas levaram a polícia até outras duas menores, que também faziam programa com o desenhista: uma de 13 e outra de 17 anos.
As gêmeas disseram terem ido a dois motéis, ambos na rodovia SP-75, um entre Salto e Indaiatuba e outro entre Itu e Sorocaba. R.B., 22 anos, é acusada de aliciar as menores para o desenhista. Mora no bairro Jardim Saltense, em Salto, cidade onde trabalha como balconista em uma farmácia no centro.
"Ela (R.B.) também saia com ele, o conheceu pela internet", disse a mãe das gêmeas. Segundo elas, as duas apenas filmavam as relações entre o desenhista e R.B.
Corte na cabeça
Familiares de Osti disseram que ele tinha um ferimento recente na cabeça. O caixão onde estava o seu corpo permaneceu o tempo todo aberto no Velório Barbieri. Foi sepultado às 14h do domingo, no Cemitério de Itu.
'Mole', como era conhecido, era casado havia 25 anos e não tinha filhos. "A nós foi dito que o corpo foi encontrado enforcado no cano do chuveiro. A cela não tinha iluminação. Quando foram procurá-lo tiveram de usar um farolete", alegou um dos familiares.
A família também defende que o corpo foi encontrado pelo delegado plantonista, José Moreira Barbosa Netto, após ela (família) ter ido à delegacia buscar informações de como o desenhista estava.
No domingo, no velório, uma pessoa ligada à administração do Cemitério de Itu teria dito, também aos familiares, que este caso era o terceiro, somente em 2010, de pessoa morta por enforcamento naquela cadeia. Na delegacia, a informação foi desmentida por policiais de plantão. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) sai em 30 dias.
Os familiares confirmaram que dois computadores de Osti (desktop e notebook) foram apreendidos na residência dele, localizada no Jardim Mayard, em Itu. Um celular também foi recolhido pelos policiais. "Só sabemos o que foi falado: que ele foi pego com duas menores dentro do carro. Mas não tem isso no flagrante do Boletim de Ocorrência", ressaltam os familiares.
Para a família, o desenhista conhecia as meninas de 13 anos, as quais ele teria mantido relações. "Quem deveria estar preso, na realidade, são os pais dessas menores. Não são crianças. Elas sabem muito mais do que qualquer um de nós juntos. Ele (Osti) foi um idiota, caiu numa burrice... O mal dele foi pra nós, não para aquelas criaturas. Ele conhecia essas meninas desde pequenas. A própria mãe disse que estava denunciando pelas crianças dos outros, porque das dela tanto fazia... (sic)."
by Gustavo Ferrari e Leandro Nogueira