terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira, real!

Blindness/Reprodução/IMO Artes
Quem já assistiu ao filme Ensaio sobre a Cegueira, do cineasta Fernando Meirelles, sai do cinema impactado de várias maneiras. O enredo começa num ritmo acelerado, com um homem que perde a visão de um instante para o outro enquanto dirige de casa para o trabalho.

Após este primeiro episódio, uma a uma, cada pessoa com quem ele se encontra - sua esposa, seu médico, até mesmo o "aparentemente bom samaritano" que lhe oferece carona para casa - terá o mesmo destino. À medida em que a doença se espalha, o pânico e a paranóia contagiam a cidade. As novas vítimas da "cegueira branca" são cercadas e colocadas em quarentena num hospício caindo aos pedaços, onde qualquer semelhança com a vida cotidiana começa a desaparecer.

Nos consultórios oftalmológicos, a pergunta mais freqüente ouvida pelos médicos, após a estréia do filme, é se os casos de cegueira súbita são comuns. "Qualquer um pode ser acometido pela súbita falta de visão em meio ao caótico trânsito de São Paulo?",questionam os pacientes.

Segundo o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares (IMO), quando a visão diminui ou desaparece nos dois olhos, ao mesmo tempo, como no enredo de Ensaio Sobre a Cegueira, os motivos são, na maioria das vezes, de ordem neurológica. "O olho é uma extensão do sistema nervoso central. Um quadro neurológico agudo pode ocasionar cegueira súbita. Entre os problemas neurológicos, a enxaqueca é uma das causas mais comuns. Algumas enxaquecas podem causar cegueira transitória".

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaléia, a enxaqueca com aura - alterações de visão - acomete de 10% a 15% dos pacientes, e os casos de cegueira parcial são raros. Os de cegueira total, então, são raríssimos.

Além das enxaquecas, algumas doenças sistêmicas também podem levar à perda de visão. Pacientes que sofrem de hipertensão arterial e que apresentam colesterol alto são mais propensos à baixa de visão, que pode ser repentina e total. "Uma queixa comum dos pacientes hipertensos é o aparecimento de moscas volantes, que podem ser descritas como pontos pretos, manchas escurecidas ou fios que se assemelham às teias de aranha, observados, principalmente, quando o paciente olha para uma parede branca ou para o céu claro", relata o oftalmologista Eduardo de Lucca, que também integra o corpo clínico do IMO.

No caso das doenças sistêmicas, o diabetes também é fator de risco, pois afeta a retina, e pode deteriorar a visão da noite para o dia. Uma das mais sérias comorbidades do diabetes é a retinopatia diabética, caracterizada por alterações vasculares, lesões que aparecem na retina, podendo causar pequenos sangramentos e a perda da acuidade visual.

Pacientes que apresentam miopia alta – que usam lentes corretivas com mais de dez graus – também têm maior predisposição para a cegueira súbita, mas neste caso, é possível prevenir o problema. "É preciso fazer rotineiramente um exame de retina", explica Lucca.

Além dos fatores já citados, outras razões podem provocar a perda de visão subitamente, como inflamações do nervo óptico, das meninges, deslocamento de retina, obstrução de veias e artérias ligadas ao globo ocular e o glaucoma. "A cegueira súbita acontece com mais freqüência em apenas um olho. E, em muitos desses casos, o paciente pode não perceber claramente a baixa da visão", conclui.