HIV2/Reprodução/Arte
A vacina experimental de luta contra a Aids criada pelo laboratório americano Merck, cujo teste clínico foi paralisado repentinamente no final de 2007, facilitou a infecção pelo vírus HIV. A informação é o resultado de um estudo realizado por pesquisadores franceses e divulgado ontem nos Estados Unidos.
A pesquisa, realizada no Instituto de Genética Molecular de Montpellier (França), mostra como essa vacina, que despertou grande esperança para vencer a Aids, não apenas foi ineficaz para impedir a infecção com o vírus, como a facilitou.
A vacina, utilizada pela Merck nos testes, era baseada em uma amostra enfraquecida de um vírus muito comum do resfriado, o Adenovírus 5 (Ad5), como vetor de porções de HIV no organismo. Essas porções deveriam deflagrar, normalmente, uma resposta do sistema imunológico contra uma infecção posterior pelo HIV.
O que ocorreu foi que os anticorpos gerados pela vacina se ligavam à superfície das células imunológicas e facilitavam a entrada de partes do vírus HIV. Uma vez dentro da célula, o HIV infecta a célula, especialmente os linfócitos T, principal componente do sistema imunológico.
A constatação foi comprovada quando os cientistas descobriram, três anos depois do início do teste clínico, que um número de participantes que receberam a vacina experimental e tiveram uma resposta imunológica aos adenovírus era cada vez mais numeroso em termos de infecção pelo HIV.
A pesquisa, publicada na versão online do Journal of Experimental Medicine, mostra que a presença durável, no organismo, dos anticorpos gerados no ciclo natural das infecções com os adenovírus pode alterar a resposta imunológica à vacina anti-HIV.
Uma das preocupações causadas pela vacina Ad5 foi que a reação imunológica do corpo ao adenovírus provocasse uma rejeição da vacina por parte do organismo antes que uma resposta anti-HIV pudesse se desenvolver, explicam os cientistas.
De fato, o HIV se propagou em culturas celulares em laboratório três vezes mais rápido na presença de anticorpos produzidos para reagir à infecção pelo adenovírus Ad5.
A vacina da Merck foi testada, a partir de 2004, no Brasil, Estados Unidos, Austrália, Peru, Porto Rico e África do Sul. Ao contrário das vacinas tradicionais, já testadas sem sucesso contra o vírus da Aids e que tentam reforçar a imunidade do organismo, essa vacina visava a estimular os linfócitos T. (Fonte: France Press/Folha de São Paulo)