terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A cátedra de Apolo - Ato II: Santeria

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"Asta na regla de ocha...vamos, vamos, me dê o poder necessário para usurpar o trono de meu pai e fugir pela porta da frente deste palacete", suplicou a moça em frente ao espelho, que refletia a cor lilás das longas cortinas de seda que decoravam o grandioso quarto.

Quando aprendeu a tocar Wolfgang Amadeus Mozart no colégio das freiras Santa Clara, em Moranello, Keandra não imaginou que um dia fosse parir quatro filhas admiráveis. "'Haffner', a sinfonia número 35, sempre me acalmava quando precisava espairecer a cabeça. Veronika, a mais velha das belas, adorava. Cresceu ouvindo a sonata perfeita do austríaco. Agora, acredito que ela nem se lembre mais disso. Só quer saber de fazer filho", disparou a mulher à François, que a ouvia pacientemente.

Quando Franz a conheceu, no Café de La Musique, no inverno de 1933, em Paris, a 'zenóbia arcana' se apaixonou de imediato. No entanto, para casar, Ingo, o pai de Keandra, solicitou ao dentista que a levasse para morar na Itália. Não queria que o genro usufruísse da coleção de Dom Pérignon Brut que guardara desde os 28 anos.

"Me guias en tu ombro...chita", resmungava Ziléia em seu quarto. O vodu parecia funcionar. Ela estava se sentindo melhor e preparada para encarar o poderoso Amün. Queria fugir até Rimini para encontrar o tão amado Conrado ou torcia para que Astor a levasse.

"Consegui, consegui", berrava a moça. Radiante de felicidade, Keandra não acreditava no que estava vendo. "Como você bolou isso, minha filha? Se teu pai descobrir, eu e você já éramos daqui. Seremos alimentos para Keun. Sabes disso", bocejou sua mãe. "Calma, peraí. Tu achas que sairei assim, sem nada?", retrucou Ziléia.

Era a primavera de 1966. No castelo, o Beach Boys fazia o maior sucesso na vitrolinha da moça, que só desligava no momento do almoço ou da janta. Mas, sabia Franz, o temido, que a filha conseguira juntar o quebra cabeça montado para prendê-la no quarto. Assim, a chance de fuga antes do verão se tornava iminente e em vias de acontecer. Não seria uma coisa consentida.

by Gustavo Ferrari