terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A cátedra de Apolo - Ato III: Solstício

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Enquanto calculava uma forma de enganar o patrão, François tentava, ao mesmo tempo, fazer as vontades de Keandra e ajudar a jovem Ziléia a seguir em busca de sua paixão. "Isto está parecendo tragédia grega de gente indecente", pensou.

Keun, o urso capturado por Amün às margens da Baía de Hudson, no norte do Canadá, em 1954, era dócil apenas quando desejava. Seus molares eram capazes de estraçalhar desde pequenos rochedos...até mesmo Ziléia. "Se conheço bem meu esposo, irá deixar o pobre animal solto para impedir a saída da caçula", coxixou Keandra ao mordomo.

De fato, a jovem percebera que o pai faria de tudo para impedir sua partida. Mas, a moça não fazia idéia do que o poderoso Amün seria capaz de criar para que seu plano não funcionasse. "Tenho de bolar algo antes do anoitecer", resumiu a aprendiz de fugitiva em um pergaminho.

Conrado tentava convencer Liaca a emprestar a carruagem para buscar a amada atrás da montanha. "Nem se tu conseguires passar por cima de mim", gritou o último clã dos Zanella, uma aguerrida família que viveu em Gênova no século XVII. "Mas 'papai', quero muito encontrá-la. Prometo que voltarei", respondeu o rapaz. "Cala-te boca ou te arrebento aqui mesmo", gritou o padastro. Astor encarava o mesmo constrangimento.

As tentativas de fuga, em vão, seriam supridas com a presença de Cassandra, a tia de Ziléia, especialista em romances efêmeros e cretinices. A ex-teatróloga madura estava para retornar à região da Ligúria ainda na Primavera. Quando soube, Ziléia caiu aos prantos.

"Sabes que ela será tua aliada. Por que o choro, minha jovem?", perguntou, usando a sua costumeira falsidade, o magrelo François. "Tenho medo que a titia Cassandra roube o meu Conrado ou ame o meu Astor", retrucou Ziléia. "E desde quando você gosta de homens bonitos?", perguntou novamente o mordomo. "Desde que vi em você a feiura humana", berrou, enraivecida, a pobre moça.

by Gustavo Ferrari